Título: Cesar Maia reconhece fim do seu ciclo
Autor: Awi, Fellipe; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 06/10/2008, O País, p. 11

Prefeito diz, porém, que seus opositores ficaram fora do segundo turno e fala em disputar Senado ou estado.

Emocionado, o prefeito Cesar Maia tentava ontem à noite, na residência oficial da Gávea Pequena, transmitir a idéia de que a sua derrota acabou sendo uma vitória de um estilo de governar. O desfecho das eleições foi acompanhado em família e com um grupo de amigos.

- O eleitor queria reafirmar um estilo de governo, mas queria renovar. A solução encontrada foi essa. O PV participou dos meus governos durante 11 anos. O ex-secretário Alfredo Sirkis foi uma indicação do Gabeira. O Eduardo Paes foi meu subprefeito e secretário. A vida continua. Eu quero que o prefeito que for eleito faça um bom governo - disse.

Para Cesar, o governador Sérgio Cabral também saiu derrotado ao não conseguir eleger ou ver no segundo turno candidatos que apoiou.

- O governo Cabral é medíocre e isso foi provado porque seus candidatos foram rechaçados em Niterói, Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. E a sua vitória ainda não está certa na capital.

Pela manhã, o prefeito já admitia que seu ciclo à frente da prefeitura do Rio estava chegando ao fim. Pouco antes de votar no Hotel Intercontinental, em São Conrado, ele reconheceu que a população buscava um novo modelo.

- Até os casais, às vezes, têm isso. Depois de dez, 12 anos de casamento querem uma nova experiência. O desafio do próximo prefeito é gigantesco: fazer um governo melhor que o nosso nesses anos todos. Se não conseguir, vai ser uma grande frustração, e eu não gostaria de ser candidato outra vez - afirmou.

Cesar não descarta disputar prefeitura de novo

Cesar foi eleito prefeito do Rio em três dos últimos quatro pleitos municipais. No outro, em 1996, ajudou a eleger Luiz Paulo Conde, então seu aliado político. Embora reconheça o desejo de mudança da população carioca, ele argumenta que todos os candidatos que se posicionaram como "opositores permanentes" ao prefeito perderam logo no primeiro turno. Segundo ele, estes são Marcelo Crivella (PRB), Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (PT).

O prefeito falou ainda de seu futuro político em 2010. Segundo ele, existe a possibilidade de concorrer a uma vaga no Senado ou ao governo do estado. A primeira opção "é a do coração", mas a segunda seria mais provável caso o governador Sérgio Cabral (PMDB) componha a chapa do PT nas eleições presidenciais.

Perguntado se descartaria a hipótese de concorrer de novo à prefeitura, Cesar foi direto:

- Em política, descartar ou ser convicto completamente é uma besteira avassaladora.

Como de hábito, o prefeito chegou à sua seção eleitoral bem cedo, antes da abertura da votação. Ao lado de Solange, conversou com alguns eleitores e deu entrevistas. Depois, foi alvo das brincadeiras do programa humorístico "CQC", da TV Bandeirantes.

O primeiro momento de constrangimento aconteceu na fila da 171ª seção, onde aguardava vez do lado de fora. À sua frente, estava o irmão de Eduardo Paes, Guilherme. Apenas Solange o cumprimentou. Incomodado com os fotógrafos que perceberam a coincidência, Guilherme foi embora. Já dentro do hotel, quando se encaminhava à seção de Solange, mais uma saia-justa. Ao se deparar com o prefeito, o ator Ricardo Petraglia, vestido com uma camisa do PV, começou a gritar:

- Graças a Deus, o seu tempo acabou. O senhor foi o pior prefeito dessa cidade.

Cesar fechou os olhos, abaixou a cabeça e respondeu:

- Isso é democracia. Agora o senhor vai poder expressar (a sua opinião).

Embora tenha tentado afastar o prefeito de Petraglia, Solange provocou o ator um pouco depois, quando já estava na fila da sua seção:

- Está querendo um palco?

- Estou muito bem empregado, ao contrário da senhora, que amanhã estará na rua - rebateu Petraglia.

Por fim, o ator deixou a seção ainda esbravejando:

- Eu posso falar porque já votei nele. Fui enganado por esse banana.

Eleitora é carregada no colo pelo prefeito

Na saída do hotel, Cesar aproveitou a simpatia de uma eleitora e saiu abraçado com ela. Depois de conversarem um pouco, pegou-a no colo, para alegria dos fotógrafos. Dali foi para casa, onde acompanhou a apuração ao lado de Solange Amaral..