Título: Soldados ferem 2 homens com balas de borracha na Cidade de Deus
Autor: Galdo, Gabriel
Fonte: O Globo, 06/10/2008, O País, p. 13

Confusão em frente a Ciep teria começado com prisão de cabos eleitorais.

No único incidente registrado no dia da eleição, dois homens foram feridos por balas de borracha, ontem à tarde, disparadas por soldados do Exército, na Cidade de Deus. Um deles, identificado apenas como Marcelo, foi ferido por um tiro de raspão na mão. O outro, Átila Lourenço de Lima, de 29 anos, foi ferido na barriga. Segundo o Exército, eles teriam tentado impedir a prisão de dois cabos eleitorais. O incidente obrigou o Exército a reforçar o efetivo no local.

Os rapazes foram baleados em frente ao Ciep João Batista dos Santos, onde eram intensos o movimento de eleitores e a boca-de-urna. Segundo a mulher de Átila, Michele Henrique Ferreira, de 28 anos, a confusão começou quando uma eleitora que saía do Ciep passou mal. A discussão teria rapidamente evoluído para uma briga, e os soldados teriam agredido os moradores.

- Eram 20 soldados. Meu marido, que tentava apartar a briga, foi agredido com coronhadas e chutes. Ele chegou a correr, mas se rendeu, levantando os braços. Neste momento, um soldado atirou e os outros continuaram batendo. Não pararam nem quando me joguei sobre ele. Só quando viram o sangue é que ficaram nervosos e pararam de nos agredir - contou Michele, com ferimentos nos braços e nas pernas.

Segundo Exército, feridos que começaram a discussão

De acordo com o porta-voz do Exército, coronel André Luiz Novaes, os feridos é que começaram a discussão.

- Duas pessoas foram presas por fazer boca-de-urna. Quando estavam sendo levadas, a população reagiu, cercando os soldados. Um homem tentou pegar a arma de um militar, foi atingido na mão e fugiu. Outro (Átila) agrediu dois militares e levou um tiro de borracha no abdômen.

Átila foi levado pelos soldados ao Hospital Lourenço Jorge, na Barra. De acordo com a Secretaria municipal de Saúde, Átila teve de ser operado, pois a bala causou uma lesão no estômago e no fígado. Segundo os médicos, ele não corre risco de morte.

Nas duas horas que se seguiram ao incidente, a situação ficou tensa na Cidade de Deus. Moradores ocuparam a Praça Roberto Valeriano Pequeno, em frente ao Ciep, pedindo esclarecimentos aos oficiais. Com isto, mais 60 soldados foram enviados ao local, somando-se aos 150 inicialmente destacados.

Uma das pistas da Avenida Edgard Werneck, que corta a favela, chegou a ser interditada. Apesar disso, não houve confronto e ninguém mais foi preso. Na avaliação do porta-voz do Exército, a intensa boca-de-urna realizada na comunidade, aliada à presença de muitas pessoas embriagadas, pode ter contribuído para o tumulto.