Título: Exército garante votação em área de milícia
Autor: Galdo, Gabriel
Fonte: O Globo, 06/10/2008, O País, p. 13

Militares fortemente armados patrulham Zona Oeste, onde fiscais do TRE tiveram trabalho com boca-de-urna.

A presença das Forças Armadas garantiu a tranqüilidade das eleições em favelas dominadas por milícias na Zona Oeste. Na Carobinha, em Campo Grande, a votação transcorreu normalmente, apesar do clima tenso do lado de fora das seções, com os eleitores tendo que circular entre militares fortemente armados. A situação era parecida na Favela do Barbante, também em Campo Grande, nas imediações da zona eleitoral que reúne o maior número de eleitores do bairro - cerca de 14 mil -, no Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), onde os militares se concentraram.

Fiscais recolhem placas de propaganda

As duas comunidades são dominadas pela milícia Liga da Justiça, supostamente chefiada pelo vereador Jerônimo Guimarães, o Jerominho, e pelo deputado estadual Natalino Guimarães. Os dois estão presos e são pai e tio, respectivamente, da candidata a vereadora Carmen Glória Guinâncio Guimarães, a Carminha Jerominho (PTdoB), presa desde 29 de agosto, durante a operação Voto Limpo, da Polícia Federal, acusada de se beneficiar da atividade da milícia para obter apoio político.

Carminha passou o dia numa cela do presídio de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná. Cabos eleitorais da candidata fizeram boca-de-urna ontem. Um grupo deles circulava pelo Centro de Campo Grande vestindo camisetas com a inscrição "Coração Valente", símbolo da campanha de Carminha. Mais tarde, já sem as camisetas, distribuíram santinhos.

A prática foi generalizada na região. Um delegado do PSDB que fazia boca-de-urna da candidata Lucinha chegou a ser detido em frente ao Uezo.

Para coibir esse tipo de ação, fiscais do TRE fizeram operações em toda a Zona Oeste. Na Avenida Cesário de Melo, abordaram cabos eleitorais que panfletavam para os candidatos Pantera Van Q Vem (PDT) e Professor Uoston (PMDB). Placas de propaganda abandonadas também foram recolhidas. Apenas num bar em Inhoaíba, mais de dez foram apreendidas.

A presença de fiscais e de militares não inibiu a distribuição de santinhos. Os cabos eleitorais paravam a panfletagem quando os soldados se aproximavam. Nas calçadas perto das principais zonas eleitorais, a propaganda cobria o chão, antes até da abertura das urnas.

Os soldados circularam ainda pela Avenida Santa Cruz, em Senador Camará, próximo às favelas da Coréia, Sapo e Taquaral.

Em Jacarepaguá, soldados do Exército e fiscais do TRE também tiveram trabalho para coibir a boca-de-urna. Havia distribuição de panfletos nas favelas Gardênia Azul e Rio das Pedras. Apesar disso, a eleição correu com tranqüilidade.