Título: Dilma e Tarso divergem sobre apoio do presidente Lula na capital
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 06/10/2008, O País, p. 19

Ministros defendem união das esquerdas para derrotar Fogaça.

PORTO ALEGRE. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ministro da Justiça, Tarso Genro, sinalizaram ontem que a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Porto Alegre, no segundo turno, será um tema polêmico para o Palácio do Planalto. Dilma e Tarso defenderam a união das esquerdas, com o PT conquistando o apoio da candidata do PCdoB, Manuela D´Ávila. Eles divergiram, no entanto, sobre a participação de Lula à petista Maria do Rosário contra o peemedebista José Fogaça.

Dilma, que já se preocupa com os rumos da coalizão governista para a sucessão presidencial de 2010, irritou-se com as perguntas sobre a participação de Lula. Já Tarso defendeu explicitamente a presença do presidente.

Participando da campanha em Porto Alegre como um aprendizado para uma eventual candidatura em 2010, Dilma passou o dia com a candidata do PT. Visivelmente mal-humorada, a ministra deixou a impressão, entre os políticos presentes, que precisa adquirir mais "jogo de cintura".

Apoio de Lula pode criar atritos com a base alidada

A cautela de Dilma sobre a presença do presidente Lula sinaliza que há uma preocupação maior no Planalto em evitar atritos com partidos aliados que possam azedar os ânimos para 2010:

- Estamos aqui falando da campanha estritamente municipal, o resto é ilação.

Ao ser lembrada que Tarso defendeu a participação de Lula, Dilma respondeu contrariada:

- Sugiro que você faça a entrevista com ele, minha filha. O presidente Lula tem um posição clara: é um homem como cidadão, e é membro do PT. Ele vai avaliar isso. Agora, jamais você vai me ver falando o que o presidente deve ou não fazer. O que acho que ele deve fazer só falo para ele.

Dilma aceitou falar em tese o que pensa para 2010, expondo a importância dos aliados:

- É impensável governar o Brasil se não tivermos uma base de sustentação que tenha condição de executar um programa transformador. Acreditamos que a tendência seja de uma base de centro-esquerda.

Tarso, no entanto, partiu para o ataque, ao alfinetar publicamente a ministra:

- Defendo a vinda do presidente porque o prefeito Fogaça era do PPS e só agora veio para o PMDB, para ser candidato. Aqui, quem sempre defendeu o governo Lula foi Maria do Rosário. A gente tem o direito de pedir (isso).

Mas Dilma e Tarso concordaram que é fundamental, para vencer Fogaça, que haja uma união da esquerda no segundo turno, obtendo o apoio do PCdoB e do PSB.

- Espero que a esquerda se una em torno da Maria do Rosário, porque isso seria o correto. A Manuela tem todas as condições de vir a apoiar a Maria do Rosário - disse Dilma, acrescentando que a petista poderá ser a primeira mulher eleita para comandar a capital gaúcha.

Para a ministra, o segundo turno é uma nova eleição, e devem ser superados ataques mútuos. Na campanha, Manuela foi alvo de ataques de Maria do Rosário por ter apenas 27 anos e ser inexperiente.

- Eventuais tensões são necessariamente superadas no segundo turno - concluiu a ministra. (Cristiane Jungblut, enviada especial)