Título: De azarão a fenômeno agindo por instinto
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 07/10/2008, O País, p. 17

Quintão teve campanha modesta.

BELO HORIZONTE. Com um sotaque caipira acentuado e concluindo quase toda frase com um "pelamor de Deus" (sic), o deputado federal de primeiro mandato Leonardo Quintão (PMDB) foi alçado, ao longo da campanha em Belo Horizonte, da condição de azarão a de fenômeno. Isso com uma campanha modesta, para os padrões das capitais, e agindo quase que por instinto.

O jovem político de 33 anos - pai de família, bem criado, com formação no exterior e que vai ao culto todos os dias - se recusava, por exemplo, a ler os textos preparados por marqueteiros para o horário eleitoral gratuito. Inovou no jeito de fazer campanha e chegou ao segundo turno com 30 mil votos atrás do até então favorito Márcio Lacerda (PSB), que contou com o apoio das poderosas máquinas do estado e da capital mineira.

Convencido de que "voto se ganha nas ruas, conversando com o eleitor", Quintão optou por ir de táxi aos mais de 600 compromissos que teve durante o primeiro turno. Cada dia com um motorista diferente, o que, na sua avaliação, levou um grande número de taxistas a se transformarem em propagadores de sua candidatura.

Mas um dos sucessos de sua campanha, na reta final, foi a estratégia de pôr uma fotógrafa registrando seus encontros com o eleitor nas caminhadas que fez pela cidade. Em alguns momentos, podia se ver uma fila de pessoas querendo tirar fotos com o candidato, que por causa da cara de galã chegou a ganhar o apelido de Clark Kent, numa alusão ao disfarce do herói de quadrinhos Super-Homem. Sem gastar um tostão, Quintão colocava essas fotos no seu site, o que o ajudou a divulgar seu programa de governo.

Por ser membro da Igreja Presbiteriana, Quintão angariou também uma simpatia grande entre o público evangélico. A escolha de seu vice, o deputado estadual Eros Biondini, que faz sucesso como cantor entre fiéis da Igreja Católica Carismática, reforçou o viés religioso da chapa eleitoral. Mas o candidato do PMDB nega que isso tenha sido usado durante a campanha.

- Em nenhum momento da campanha divulguei que sou evangélico. Crença pessoal não pode ser misturada com política - afirma Quintão.

Ao contrário da deputada comunista Jô Moraes, que chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto no início da campanha eleitoral, Quintão evitou criticar o governador Aécio Neves (PSDB) pela aliança articulada com Pimentel em favor de Márcio Lacerda. Ao longo da campanha fez questão de frisar seu apoio ao governador, a quem prometeu apoiar numa eventual disputa à Presidência da República, e ao governo Lula. Estratégia essa, que ele pretende manter no segundo turno.

Embalado pelo desempenho surpreendente que teve no primeiro turno, Quintão promete dar mais trabalho ainda aos padrinhos de seu adversário. Continuará preservando, estrategicamente, sua relação com Aécio. Seu alvo é mesmo Márcio Lacerda, sobre quem tem pelo menos uma vantagem já identificada pelo belorizontino: o carisma.