Título: Ficou claro que não há Rei Midas
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 07/10/2008, O País, p. 17

Governador minimiza resultado e diz que ninguém ficou fora do jogo de 2010.

BELO HORIZONTE. Ao analisar ontem, em entrevista, o resultado do primeiro turno em Belo Horizonte, o governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, não considerou como derrota a ida de seu candidato a prefeito de Belo Horizonte, o empresário Márcio Lacerda (PSB), para o segundo turno. Pelo contrário, disse que se sentia extremamente vitorioso, ressaltando o sucesso do PSDB em Minas, que virou o partido com o maior número de prefeituras no estado - 159 ao todo, nove a mais do que as conquistadas em 2004.

O governador procurou também desvincular os resultados da eleição da disputa presidencial de 2010.

- Ninguém saiu do jogo de 2010 em razão do resultado das eleições municipais de 2008. Não existe nenhum grande vitorioso e ninguém poderá se dizer hegemônico. Ficou claro que não há nenhum Rei Midas que coloca o dedo e resolve tudo - afirmou Aécio.

Aécio ressalta número de prefeituras do PSDB em MG

Ontem mesmo, Aécio começou a articular com Lacerda novos apoios locais e nacionais para reforçar a campanha do segundo turno. A expectativa de Aécio é que o presidente nacional do PSB, o governador pernambucano Eduardo Campos, com quem falou ontem por telefone, consiga garantir para Lacerda o apoio do PCdoB e do PDT, que, junto com os socialistas, compõem o chamado bloquinho no Congresso.

- Não posso deixar de me sentir extremamente vitorioso. O PSDB continua sendo o maior partido no estado em número de prefeituras e posso dizer que mais de 90% dos prefeitos foram eleitos defendendo o apoio e a parceria com o governo do estado. Em Belo Horizonte, meu candidato ficou na frente e o outro que chegou ao segundo turno se diz meu aliado. Uma posição extremamente confortável para mim - afirmou Aécio.

A candidata derrotada do PCdoB, a deputada federal Jô Moraes, que ficou em terceiro lugar na disputa em Belo Horizonte, ainda não se posicionou sobre o segundo turno, mas admitiu que seguirá a decisão que a executiva nacional do partido tomar na próxima quinta-feira em Brasília. O atual prefeito da capital mineira, o petista Fernando Pimentel, é outro que aposta na adesão dos comunistas à campanha de Lacerda, apesar da briga judicial travada entre a candidata comunista e o do PSB no primeiro turno.

- O PCdoB compõe o governo da prefeitura de Belo Horizonte há 16 anos. O partido tem subsecretários e vários cargos de gerência no governo, que não foram afastados nem quando a Jô lançou sua candidatura. O caminho natural do partido é continuar apoiando um projeto democrático. O outro caminho seria um retrocesso, já que o PMDB sempre fez oposição à nossa administração - afirmou Pimentel, ressalvando: - Temos o exemplo de Ipatinga, onde o PT acabou de derrotar o candidato do PMDB, que, aliás, é pai do deputado Leonardo Quintão e desmontou em quatro anos o trabalho que tínhamos feito naquela cidade.

Lacerda pede ajuda a Ciro e promete reagir a ataques

O próprio Lacerda telefonou para o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), um dos primeiros defensores de sua candidatura, para pedir sua ajuda nas articulações de novas alianças para o segundo turno. Além de tentar ampliar seu arco de apoios, o candidato do PSB promete reagir nessa segunda fase de maneira mais contundente aos ataques que teria recebido no primeiro turno vinculando seu nome ao escândalo do mensalão.

- Com essa campanha sórdida feita pela internet, acredito que tenha perdido uns 150 mil votos que já havia conquistado da classe média e dos formadores de opinião, por não ter respondido aos ataques em meu programa de TV e rádio - admitiu Lacerda.

Aécio procurou minimizar ontem também os efeitos da derrota do candidato tucano Geraldo Alckmin à prefeitura de São Paulo, que recebeu o seu apoio apesar da preferência do governador paulista José Serra pela reeleição do atual prefeito da cidade, o democrata Gilberto Kassab. Disse que repetiria cem vezes o gesto em favor do companheiro de partido, embora considere limitada sua influência na eleição paulista, e defendeu que o PSDB agora apóie Kassab.(Adriana Vasconcelos)