Título: Decisão divide empresários
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2009, Economia, p. 14

O corte de 1,5 ponto percentual rendeu elogios e críticas ao Banco Central. Alguns aprovaram a redução, mas muitos a consideraram insuficiente

-------------------------------------------------------------------------------- Ricardo Allan Da equipe do Correio Iano Andrade/CB/D.A Press Integrantes da Força Sindical queimaram, em frente ao Banco Central um boneco simbolizando o presidente da instituição, Henrique Meirelles A decisão do Banco Central (BC) de reduzir para 11,25% a taxa básica de juros (Selic) dividiu o setor produtivo brasileiro, antes coeso nas críticas aos efeitos recessivos da política monetária. Ontem, o BC recebeu alguns elogios entre os representantes dos empresários, embora outros tenham considerado o corte de 1,5 ponto percentual insuficiente para evitar que o país entre em recessão já neste trimestre. As principais centrais sindicais reclamaram da manutenção dos juros num nível ainda alto, num momento em que é preciso preservar a produção e o emprego.

Em nota, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouveia Vieira, aprovou o tamanho da redução, mas pediu que o governo avance nas reformas estruturais para aumentar a competitividade dos produtos nacionais.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, apoiou a decisão do BC, que qualificou de ¿mea culpa¿. ¿Embora tardiamente, caiu a ficha no Banco Central¿, disse. Para o empresário, a redução dos juros deveria ter começado no final do ano passado. ¿Agora que o Banco Central parece ter despertado do seu sono, esperamos que haja uma firme decisão de rever esta política monetária que se transformou num verdadeiro problema estrutural para o Brasil.¿

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), Alfried Plöger, a redução da Selic em 1,5 ponto é ¿muito bem-vinda¿, mas contrasta com medidas anunciadas pelo governo, como a criação de novos ministérios. ¿O governo continua tratando o tsunami como se fosse uma pequena onda¿, afirmou. Para ele, a elevação dos gastos públicos é ¿inoportuna e contraditória¿. O presidente do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças (Ibef), Walter Machado de Barros, considerou a decisão ¿um corte providencial, na medida certa¿.

Alguns dos principais representantes empresariais do país foram mais duros. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), qualificou de ¿frustrante¿ o corte de apenas 1,5 ponto na Selic. ¿A decisão frustra a sociedade, os agentes produtivos e a indústria brasileira. Esse movimento de aceleração no corte dos juros, ainda que na direção correta, não tem a intensidade necessária ao momento¿, disse. O deputado pediu uma ação ¿mais agressiva¿ com redução da taxa para um dígito.

Crítico contumaz do governo, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu uma nova redução em no máximo 15 dias. ¿Os responsáveis pela política econômica serão também os responsáveis pelo desemprego no Brasil se, a curto prazo, não acontecerem novos cortes na Selic¿, disse. Segundo ele, a manutenção dos juros num nível alto vai contribuir para que o país entre em recessão neste ano.

Timidez O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, considerou tímida a decisão. Ele criticou os diretores do BC. ¿Esperávamos que a coragem revelada pelas autoridades monetárias em elevar as taxas de juros quando julgaram necessário, e de mantê-las quando consideraram conveniente fosse demonstrada agora com uma redução mais ousada da Selic¿, disse.

Antes do anúncio, membros da Força Sindical queimaram um boneco com a imagem do presidente do BC, Henrique Meirelles. À noite, o presidente da central, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), qualificou a decisão de ¿nefasta¿. ¿Os insensíveis tecnocratas do BC perderam uma ótima oportunidade de afrouxar um pouco a corda que está estrangulando o setor produtivo, que gera emprego e renda. Infelizmente, mais uma vez, o governo se curva diante dos especuladores¿, disse.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) afirmou que a diminuição deveria ter sido maior. ¿O Brasil ainda tem chances de registrar crescimento em 2009, e devemos ser ousados para não perder a oportunidade¿, disse Artur Henrique, presidente da CUT.

-------------------------------------------------------------------------------- Cautela na Bovespa

Depois de um dia de fortes altas no mundo inteiro na terça-feira, os mercados preferiram a cautela ontem. Numa sessão de negócios em que a tônica foi a falta de notícias sobre a economia, as bolsas de valores ¿andaram de lado¿. Mais uma vez seguindo a tendência de Wall Street, a bolsa de São Paulo (Bovespa) oscilou entre uma mínima de -1,43% e uma máxima de 1,33% , fechando com ligeira alta de 0,03%, aos 39.310 pontos. O índice paulista acumula valorização de 1,63% no mês e de 3,34% no ano.

A calmaria na Bovespa também se deveu à expectativa sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que só anunciou o corte nos juros após o fechamento do mercado. Nas operações futuras, a taxa de janeiro ficou em 9,98%, a primeira vez em que baixou a um dígito. A cotação do petróleo em Nova York caiu 7,39%, fechando em US$ 42,33 o barril. Na Bovespa, as ações da Petrobras encerraram na contramão, com alta de 0,63%. Os papéis da Vale subiram por causa do aumento de 22,4% das importações chinesas de minérios em fevereiro na comparação com igual mês de 2008.

Em Nova York, os negócios com ações também ficaram em ponto morto. Uma hora antes do encerramento, o presidente-executivo do JP Morgan, Jamie Dimon, anunciou que o banco norte-americano teve lucro no primeiro bimestre do ano. A exemplo do que ocorreu anteontem, quando o Citigroup divulgou que terá um resultado positivo no trimestre, as declarações de Dimon animaram um pouco os investidores quanto à possibilidade de recuperação do sistema financeiro. Mas não o suficiente para voos muito altos.

O índice Dow Jones subiu 0,06%, o S&P 0,24% e o Nasdaq, 0,98%. As ações que mais se valorizaram foram as de bancos: JP Morgan (4,62%), Citigroup (6,21%) e Bank of America (2,92%). Nas bolsas europeias, o clima também foi morno: Paris (0,39%), Frankfurt (0,70%) e Londres (-0,58%). Com poucos negócios realizados no mercado cambial, o dólar subiu 0,04%, fechando a R$ 2,350. Hoje, a divulgação de indicadores econômicos nos Estados Unidos deve movimentar o mercado. (RA)