Título: Pacote contra maré alta
Autor: Oliveira, Eliane; Bastista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 07/10/2008, Economia, p. 33

BC lança medidas para ampliar financiamento a exportadores e bancos pequenos e médios.

Assustado com o total fechamento dos principais canais de crédito, a alta expressiva do dólar, a queda livre das bolsas e o pedido de socorro dos bancos menores, que não estavam conseguindo fechar seus caixas, o governo reconheceu ontem que a crise atingiu seu pior momento e lançou um pacote de seis medidas para reduzir os efeitos da turbulência no Brasil. Entre as ações estão o uso das reservas internacionais para financiar o comércio exterior e a permissão para que o Banco Central (BC) financie a carteira de crédito diretamente aos pequenos bancos. As medidas foram anunciadas ao longo do dia, começando com a retomada, depois de dois anos, dos leilões de swap cambial, operações no mercado futuro em que o BC oferece proteção contra a alta do dólar e, em troca, recebe a variação dos juros. Dos US$2,1 bilhões ofertados, o mercado adquiriu 70% (US$1,470 bilhão). No último sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia minimizado os efeitos da crise, afirmando que aqui, "se chegar, vai ser uma marolinha".

À tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, anunciaram juntos o uso das reservas. O governo repassará dólares aos bancos nacionais privados no exterior e receberá, como contrapartida, "títulos de primeira linha" e outros tipos de papéis que ainda serão definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Haverá ainda o repasse de R$5 bilhões do Tesouro Nacional ao BNDES para a modalidade pré-embarque, também de crédito aos exportadores. O CMN fará uma reunião extra para regulamentar todas as medidas.

- Estamos usando de forma inteligente as reservas internacionais - afirmou Meirelles.

No início da noite, o presidente Lula assinou medida provisória (MP) que acabou confirmando os rumores de dificuldades dos pequenos bancos. Apesar de, na última sexta-feira, o BC ter autorizado grandes instituições a comprarem carteiras de crédito de bancos de pequeno e médio portes, não houve acordos e as ameaças continuavam. Segundo Meirelles, será implementada uma linha de crédito diferenciada, pela qual o BC poderá comprar as carteiras, garantindo capital de giro aos pequenos e médios. Mas ele nega risco urgente dos bancos:

- Hoje não vemos a necessidade de exercer esta prerrogativa. É algo que não necessariamente será utilizado nos próximos anos.

Para economista, são "ações antipânico"

Meirelles negou que o governo esteja mudando o tom de seu discurso:

- Estamos sendo coerentes. Desde o início dissemos que agiríamos e tomaríamos as medidas à medida que fosse necessário. Esta crise é importada. Temos que agir à medida que ela se desdobra internacionalmente.

Na avaliação do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, seriam necessários, a curto prazo, entre US$10 bilhões e US$13 bilhões em financiamentos às exportações. Esses valores correspondem a pelo menos um mês de receitas em vendas brasileiras no exterior.

Para Carlos Tadeu de Freitas, ex-diretor do BC, as medidas vão além das competências do BC e podem gerar prejuízos para o próprio BC, Tesouro e contribuintes. Já Andrew Storfer, vice-presidente de Estudos da Anefac, associação que reúne executivos de Finanças, diz que, em emergências, o BC pode agir de forma não usual:

- As medidas são ações antipânico.

O economista Natan Blanche, da consultoria Tendências, diz que o governo precisa agir rápido, mas, em sua opinião, tem se mostrado lento:

- Um carro blindado agüenta um tiroteio, mas, se for mal conduzido, também capota.

COLABORARAM: Fabiana Ribeiro e Liana Melo