Título: Dólar sobe 7,42% e fecha a R$ 2,192
Autor: Camarotti, Gerson; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 07/10/2008, Economia, p. 34

Alta foi a maior desde janeiro de 99, quando houve maxidesvalorização.

O mercado de câmbio viveu ontem o pior dia desta crise, que começou em agosto de 2007. O dólar comercial fechou em alta de 7,42%, cotado a R$2,192 - o maior patamar desde 25 de setembro de 2006 (R$2,221). A variação de ontem, embalada pela piora do cenário externo e pelas dúvidas sobre a implantação do pacote de socorro nos EUA, foi a maior desde 29 de janeiro de 1999, mês em que o governo promoveu uma maxidesvalorização do real.

Durante o dia, o dólar comercial chegou a ser negociado a R$2,20, alta de 7,52%. O dólar turismo encerrou a R$2,27, avanço de 6,57%.

No mercado futuro, mais estragos. A divisa negociada na Bolsa de Mercadorias & Futuro (BM&F) com vencimento no início de novembro parou de ser negociada diversas vezes, por ter atingido o limite de oscilação, de 6%. A primeira parada foi às 11h22m, quando o dólar chegou ao teto, de R$2,192. A partir de então, só os contratos inferiores a essa cotação podiam ser feitos. Às 14h13m, outra parada. Só voltou a haver negócio às 16h30m. Cinco minutos depois, os contratos foram interrompidos. Às 16h53m, houve apenas uma operação. Um minuto depois o mercado parou e não funcionou mais.

- O mercado de dólar futuro baliza o de dólar à vista. Como os contratos futuros foram suspensos por várias vezes ao dia, o mercado à vista ficou parado e sem negócios. Ontem, foi um dia de pânico. Não havia dólar, pois os bancos não queriam emprestar, com medo de perder liquidez - afirmou Francisco Carvalho, da Corretora Liquidez.

O volume de negócios foi fraco: US$2 bilhões, metade da movimentação de um dia normal. O Banco Central (BC) voltou a intervir e fez um leilão de swap cambial, que funciona como uma venda de dólares no mercado futuro e serve para se proteger contra a variação da moeda. Ontem, o BC ofereceu essa proteção cambial para o restante para entre o dia 8 deste mês e 3 de novembro. A medida foi anunciada após a cotação do dólar romper a casa dos R$2,15, pela manhã.

Oferta de leilão do BC não foi bem aceita pelo mercado

A oferta não foi bem aceita pelo mercado. Dos US$2,08 bilhões ofertados pelo BC em 41.600 contratos, apenas 29.500 (no total de US$1,5 bilhão) foram comprados. Contratos desse tipo não eram oferecidos desde maio de 2006.

- Todos precisam de dinheiro, de linha. Rolar dívida não adianta. O câmbio ficou parado. O que acontece hoje (ontem) é sinal de que há um pavor generalizado: as pessoas acreditam que o dólar vai sumir e o crédito, secar - disse Míriam Tavares, da AGK Corretora.

Especialistas também ressaltaram o encarecimento da linha de crédito para exportadores. Muitas empresas que vendem ao exterior usam diariamente a Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) - quando a empresa faz um empréstimo no valor de um contrato, cujo vencimento acontece meses depois. Segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), os juros médios da linha saltaram de 5% ao ano, antes da turbulência financeira, para atuais 18% a 19% anuais:

- Ficou tudo parado. O volume diário de negócios (de ACC) caiu de US$250 milhões para US$50 milhões. Tudo vai se refletir nas exportações brasileiras a partir de dezembro.