Título: Grandes bancos estrangularam pequenos para comprar carteiras
Autor: Camarotti, Gerson; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 07/10/2008, Economia, p. 34

Instituições corriam risco de quebradeira. Medida do BC é preventiva.

BRASÍLIA. A decisão de editar uma medida provisória (MP) para dar condições ao Banco Central de comprar a carteira de crédito dos bancos pequenos teve como objetivo claro permitir dar mais liquidez ao mercado. Mas não só isso. Segundo líderes e presidentes de partidos que participaram da reunião, ontem, do Conselho Político, havia preocupação da equipe econômica com a possibilidade, até mesmo, da quebradeira de alguns bancos pequenos e médios. Por isso, a MP foi considerada medida preventiva. Um dos presentes, inclusive, informou que os bancos pequenos estavam sendo "estrangulados" pelos grandes para tentar negociar suas carteiras a preços bem mais baixos. Com a decisão de ontem, os bancos pequenos e médios passam a ter maior independência nessas operações.

- A medida evita que esses bancos tenham que vender suas carteiras a qualquer preço, o que poderia gerar uma quebradeira - elogiou o deputado Sandro Mabel (PR-GO).

- Há risco desses bancos (de pequeno porte) ficarem sem dinheiro, sem operar. Agora, além dos grandes poderem comprar carteira de crédito dos menores, o BC vai financiar o redesconto, ou seja, vai fazer o desconto da carteira desses bancos para colocar dinheiro no mercado - disse ao GLOBO o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

- Essa é uma crise de capital de giro. E essa MP tem como objetivo permitir que o BC possa comprar o crédito dos pequenos - explicou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

- É uma crise de confiança. E quando o BC transmite confiança, atua para resolver a questão. O governo está agindo com seriedade ao não permitir o pânico do mercado - reforçou o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ).

Segundo o "Jornal Nacional", já está mais difícil conseguir empréstimo pessoal. Num levantamento feito pelo JN, algumas financeiras informaram que suspenderam o crédito e anunciaram aumento de taxa de juros.

A decisão de fazer uma medida provisória foi explicada pelo governo para dar mais segurança jurídica e evitar de qualquer tipo de contestação. Na reunião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu calma e firmeza no tratamento da crise para não passar insegurança ao mercado e à população. O conselho político avaliou que a economia brasileira continuará crescendo, mas o ritmo cairá em 2009. A previsão da equipe econômica é que neste ano o crescimento será de 5%, mas, em 2009, cairá para 4% a 4,5%.

- Não podemos dizer que não seremos afetados pela crise. O presidente afirmou que não haverá pacote, mas medidas pontuais para os setores afetados - disse o deputado Gilmar Machado (PT-MG), vice-líder do governo na Câmara.

Lula, segundo os presentes, disse que o governo está cumprindo o seu papel e cobrou uma postura semelhante do Congresso. Lula apelou para a aprovação da Reforma Tributária e do Fundo Soberano.

- Se o Congresso pode acelerar a reforma tributária, assim como o fundo soberano, vamos votar logo. O presidente fez esse apelo. É um sinal aos mercados de que o Brasil está fortalecendo a sua economia - disse o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS).