Título: Alemanha anuncia plano B. França convoca bancos
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 07/10/2008, Economia, p. 39

Para conter a crise, UE afirma que vai garantir depósitos acima de 40 mil e fazer novas injeções de liquidez.

PARIS e BRUXELAS. Em meio ao pânico que se abateu sobre os mercados ontem, o governo alemão anunciou que está discutindo um "plano B" para o setor financeiro, no qual serão tomadas medidas de caráter mais amplo, não apenas "soluções pontuais." E o presidente da França, Nicolas Sarkozy, divulgou comunicado em nome da União Européia (UE), garantindo que os 27 países concordaram em fazer de tudo para não deixar o barco afundar. Entre as medidas, estão injeções de liquidez pelos bancos centrais e elevação da proteção dos depósitos bancários para além de 40 mil. Hoje, a legislação do bloco determina que a garantia seja para até 20 mil. Sarkozy convocou representantes de bancos para discutir a crise.

O que se viu foi uma espécie de "salve-se quem puder", com cada país anunciando sua medida. O anúncio da Alemanha marca uma mudança da posição oficial. Até domingo, as autoridades do país ainda resistiam a um resgate mais amplo, e defendiam que as ações deveriam ser elaboradas caso a caso.

A mudança é atribuída ao fracasso da criação de uma linha de crédito para o banco hipotecário Hypo Real State, o que levou o governo alemão, no domingo, a recorrer a um grupo de bancos privados para um novo empréstimo. No mesmo dia, anunciou que garantiria os depósitos privados em poupança.

- Estou muito consciente de que, a certa altura, soluções individuais não são mais suficientes - disse a jornalistas o ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrueck.

Ele não deu detalhes do plano, mas adiantou que está cogitando criar "um guarda-chuva para a Alemanha como um todo". Suas declarações foram reforçadas pela chanceler alemã, Angela Merkel:

- Nestes dias podemos sentir como é importante uma ação política. A economia de mercado raramente esteve sob a pressão em que está.

A decisão de elevar a garantia dos depósitos bancários foi tomada em reunião entre os ministros de Finanças da zona do euro, realizada ontem em Bruxelas. Propostas concretas serão apresentadas hoje em nova reunião dos ministros. O que já está acertado, segundo o ministro da Economia e da Fazenda espanhol, Pedro Solbes, é que o teto será "aumentando substancialmente", acima da proposta original do presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, de 40 mil.

Com a decisão, a comissão busca recuperar a confiança dos poupadores e estabilizar o mercado. O primeiro país a adotar essa medida foi a Irlanda. Ontem, em clima de pânico, o primeiro-ministro da Islândia, Geir Haarde, disse na TV que "todo o sistema bancário será mudado". A medida também foi adotada por Grécia, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Portugal e Espanha.

Na França, Sarkozy chamou ontem 15 dirigentes de bancos para discutir a crise no Palácio do Eliseu, a segunda convocação em uma semana. Ele também esteve com autoridades belgas, como o primeiro-ministro, Yves Leterme.

No dia em que o índice CAC-40, da Bolsa de Paris, teve a maior queda (de 9,04%) desde sua criação, em 1988, o governo francês também assegurou que nenhum correntista vai perder um euro sequer com a crise.

- Todos os dirigentes da União Européia declaram que cada um tomará todas as medidas necessárias para assegurar a estabilidade do sistema financeiro. Nenhum correntista de banco dos nossos países perdeu, e nós continuaremos a adotar medidas necessárias para proteger o sistema, bem como os correntistas - disse Sarkozy.

Apesar disso, todas as ações de todos os bancos franceses - que se declaram bastante sólidos -- despencaram: Crédit Agricole perdeu 10,04%, e Société Générale, outros 11,83%. Até o BNP Paribas, o banco francês que melhor resiste à tormenta, caiu 5,39%.

(*) Com agências internacionais