Título: A região não investiu o suficiente
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 07/10/2008, Economia, p. 44

BUENOS AIRES. A crise nos mercados internacionais provocará redução dos investimentos, escassez de dinheiro e de crédito na América Latina. A avaliação é da secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a mexicana Alicia Bárcena Ibarra, que há cerca de dois meses sucedeu o ex-ministro da Economia argentino José Luis Machinea no cargo. Alicia disse ao GLOBO que "a região não investiu o suficiente para o que demanda seu desenvolvimento", e que agora será mais difícil, "porque haverá escassez de dinheiro e de crédito".

Janaína Figueiredo

A crise nos mercados internacionais afetará o crescimento dos países latino-americanos? Será necessário rever as projeções da Cepal?

ALICIA BÁRCENA IBARRA: Para o ano de 2008, continuamos estimando que o crescimento da região ficará entre 4,6% e 4,7%. Para 2009, dependerá do aprofundamento da desaceleração, sobretudo nos Estados Unidos, já que isso teria um forte impacto no México e nos países centro-americanos. O que estamos fazendo é moderar nossas projeções para 2009, para um patamar entre 3% e 3,5%. A Cepal prevê um impacto no consumo e na escassez de recursos, de créditos e de liquidez. Portanto, onde mais sentiremos os efeitos será nos investimentos, no acesso ao dinheiro e no financiamento. Atualmente, a região está mais preparada para enfrentar uma crise do que estava em ocasiões anteriores. Os países souberam economizar e acumular um superávit importante, que não tinham no passado. É claro que todos os países da região não terão o mesmo comportamento, mas o fato de que existam reservas em quase todo o continente nos dá uma certa solidez. O que nos preocupa é que, lamentavelmente, a região não investiu o suficiente para o que demanda seu desenvolvimento. E agora será mais difícil ainda investir, porque haverá escassez de dinheiro e de crédito.

Que países estão mais vulneráveis neste momento às turbulências nos mercados internacionais?

BÁRCENA IBARRA: Se a desaceleração da economia americana se aprofundar poderá ter um impacto forte no México e nos países centro-americanos. A Cepal elaborou dois cenários e em ambos o crescimento do México e da região centro-americana ficará abaixo de 3%. Esperamos que na América do Sul o crescimento se mantenha em 4%. Os países mais vulneráveis sempre são os mais pobres, como a Guatemala, Nicarágua ou Bolívia.

No caso do Brasil, a senhora observa sinais de alerta?

BÁRCENA IBARRA: O Brasil está numa fase de elevado crescimento, com uma demanda interna muito dinâmica. O aumento dos juros poderia levar a taxas mais baixas (de crescimento) em 2009, o que, em conjunto, com uma menor pressão externa, deveria conter o perigo da inflação. No médio prazo, o desafio para o Brasil é o aumento os investimentos para alcançar taxas sustentáveis de crescimento mais elevadas.