Título: Em crise, Sadia chama Luiz Furlan de volta
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 07/10/2008, Economia, p. 44

Ex-ministro retorna ao Conselho da empresa após seis anos e diz que prejuízo foi um "acidente de percurso".

SÃO PAULO. Dez dias depois de admitir a existência de um rombo de R$760 milhões com operações no mercado futuro de dólar e com títulos atrelados a dívidas de bancos, entre eles do falido Lehman Brothers, a Sadia anunciou ontem à noite a volta do ex-ministro Luiz Fernando Furlan para comandar o Conselho de Administração da companhia. No primeiro dia de trabalho, Furlan já participou de reunião com todos seus diretores e também acompanhou apresentação feita por técnicos da KPMG, consultoria contratada para apurar as responsabilidades pelo prejuízo. As investigações deverão ser concluídas até a próxima semana.

- Vou reaprender agora o ofício de industrial - afirmou Furlan, durante entrevista.

Ele estava afastado da Sadia (empresa da qual é acionista) desde 2002, quando foi convidado pelo presidente Lula para assumir o Ministério do Desenvolvimento. Sua indicação para voltar ao Conselho de Administração da empresa foi aprovada ontem em reunião extraordinária. Ele ficará no lugar de Walter Fontana Filho, que pediu afastamento após três anos à frente do conselho.

Plano de abrir novas fábricas é mantido

Furlan classificou de "acidente de percurso" o prejuízo com as operações no mercado de derivativos, que levou à demissão do diretor de Finanças e Desenvolvimento Corporativo da Sadia, Adriano Lima Ferreira. Segundo ele, houve uma "transgressão das regras" de governança corporativa, que vedam risco em volume superior a seis meses de exportações futuras da empresa. Negando responsabilidade dos atuais membros do Conselho de Administração, Furlan afirmou ainda que houve "algum tipo de conivência" para que o problema não fosse comunicado antes à direção.

- Com a conclusão da auditoria, vamos tomar as providências judiciais cabíveis contra quem causou os prejuízos - disse ele, acrescentando que o pedido de afastamento de Fontana foi "um gesto de grandeza" para mostrar que a KPMG terá liberdade no seu trabalho.

Nas operações futuras de câmbio, a Sadia fez apostas de que o real continuaria valorizado frente ao dólar - o que acabou caindo por terra, com os efeitos da crise financeira internacional. Mas a Sadia também mantinha títulos atrelados a dívidas de diversas instituições. Neste tipo de operação, a empresa assume o risco de inadimplência. Só do banco americano Lehman Brothers, a Sadia mantinha em carteira títulos no valor de US$12 milhões.

- Essa prática de operações mais agressivas agora é coisa do passado - disse Furlan: - Sei que o momento é sensível, mas a minha crença é que o pior para a Sadia já passou.

Furlan afirmou que, "neste momento", não há mudanças previstas para o plano de investimento da companhia - que inclui a abertura de seis novas fábricas nos próximos meses. Mas o início de operações do banco próprio do conglomerado foi adiado à espera "de uma fase mais positiva no mercado financeiro". Furlan se queixou da falta de crédito, mas disse que nos últimos dez dias houve "um esforço" para a recomposição do caixa da empresa.

- Nossa política será manter um colchão de liquidez mínimo de R$1 bilhão. Hoje, temos R$1,5 bilhão.