Título: Paes corre atrás da foto com Lula
Autor: Tabak, Flávio; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 11/10/2008, O País, p. 3

Após pedir desculpas ao presidente, candidato vai a SP para ser fotografado com ele

Depois de ter pedido desculpas ao presidente Lula por tê-lo chamado de "chefe da quadrilha" no escândalo do mensalão, o candidato do PMDB a prefeito do Rio, Eduardo Paes, correu ontem atrás do registro que garantirá a associação de sua campanha à imagem de Lula. Juntamente com o governador Sérgio Cabral, Paes conseguiu posar em São Paulo para fotos ao lado de Lula. A imagem, feita por sua assessoria, precedeu a gravação de mensagem do presidente para o programa eleitoral. Ao desembarcar ontem à noite no Aeroporto Santos Dumont, acompanhado do vice-governador Luiz Fernando Pezão e dos presidentes regional e municipal do PT, Alberto Cantalice e Alberes Lima, Paes afirmou que o teor da gravação de Lula "será surpresa".

- Fiquei um bom tempo com ele discutindo questões do Rio. O encontro foi sensacional. Ele gravou programa de TV e declarou apoio - disse Paes, que de manhã negara que fosse se encontrar com o presidente.

Em discurso para uma platéia de representantes dos partidos de sua nova base de apoio, na Associação Comercial, no Centro do Rio, afirmou que o apoio de Lula "é fundamental":

- Mas ninguém quer surfar na popularidade do presidente. Ninguém tem a ilusão de que a população é gado e nem massa de manobra.

Paes: "Não me arrependo de nada"

Mais cedo, Paes negou que tenha pedido desculpas a Lula, durante encontro entre os dois, na última quinta-feira, na Base Aérea de Santa Cruz. Deixou claro, no entanto, um recuo em relação às duras palavras endereçadas ao presidente quando integrou a CPI dos Correios, em 2005, ao ser perguntado se foi cometido algum exagero em seu discurso na CPI:

- Não me arrependo de absolutamente nada que apurei como deputado federal. Não teve nenhum pedido de desculpa. Tive uma conversa franca com o presidente. Mas reafirmo minhas posições em Brasília, lutando pelas coisas do país. É óbvio que, no calor da política, em muitos momentos, se sai do tom. Essas não são expressões adequadas ao debate político - disse o candidato durante ato de apoio do PCdoB à sua campanha.

Sobre a carta que teria entregue a Lula, com pedido de desculpas à primeira-dama, dona Marisa Letícia, pelos ataques a Fábio Luiz Lula da Silva, filho do casal, Paes desconversou:

- Se enviei carta a alguém, é carta pessoal.

Antes de Paes negar o pedido de desculpas a Lula, a nova aliada e candidata derrotada do PCdoB à prefeitura, Jandira Feghali, ao tentar explicar como apoiaria o candidato após acusá-lo de ser incoerente com o presidente, disse que o pedido aconteceu:

- Ele próprio já se desculpou com o presidente Lula por algumas coisas, algumas questões que ele tenha colocado. Cabe a ele dizer. Foi a crítica na política.

Ao lado de Jandira, Paes, logo em seguida, rejeitou a afirmação da ex-adversária:

- Não devo desculpas a ninguém pelo papel institucional que cumpri ali (na CPI). Não vamos ficar nesse temperinho de novela mexicana.

Jandira hoje divide com Paes a primeira agenda, em Madureira, na Zona Norte, após dizer, no primeiro turno, que ele trocava mais de partido do que de camisa. Puxando coro contra Fernando Gabeira (PV), ela afirmou que houve uma onda falsa em torno do adversário. Disse que Paes representa as forças progressistas e Gabeira, "o conservadorismo modernoso".

A assessoria de imprensa de Paes divulgou nota confirmando que Lula gravou depoimento de apoio a ele. Informou que o presidente participou de uma "reunião de trabalho" para discutir os temas de interesse do Rio. Segundo a assessoria, Lula teria dito que "quem ganha com essa união é o povo do Rio" e que "fica muito feliz que o PT esteja unido em torno da candidatura do Eduardo junto com as demais forças progressistas do Rio de Janeiro".

Alberto Cantalice disse que Lula atendeu a um pedido do partido:

- O PT do Rio e o governador pediram que o presidente gravasse para Paes. Comunicamos a ele oficialmente sobre a decisão de que vamos apoiar Paes, contra o bloco político do adversário (Fernando Gabeira, do PV).

O encontro entre Paes, Cabral e Lula foi confirmado pela assessoria da Presidência apenas uma hora e meia depois de Paes ter saído do hotel, na Zona Sul de São Paulo, onde foi feita a gravação. No mesmo local, o presidente participou de encontro com a candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy.

Gabeira, que chegou a comemorar a então neutralidade de Lula, disse ser legítimo o apoio:

- Não é garantido que a fala dele acrescente votos. Vamos esperar para ver como o Rio reage.

COLABORARAM Flávio Freire e Ludmilla de Lima

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