Título: PF prende Valério por corrupção e espionagem
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 11/10/2008, O País, p. 14

Operador do mensalão e sócio, presos com mais 15, são acusados de forjar provas contra agentes da Receita.

SÃO PAULO. Pivô do escândalo do mensalão no governo Lula, Marcos Valério Fernandes de Souza foi preso ontem pela Polícia Federal, desta vez sob a acusação de comandar um esquema de espionagem contra agentes da Receita Federal e por corrupção de delegados da própria PF. Marcos Valério e o sócio Rogério Tolentino foram presos em Belo Horizonte, na Operação Avalanche, com mais 15 pessoas, entre policiais federais e policiais civis, empresários e advogados.

Valério e Tolentino são acusados de forjar denúncias contra dois funcionários da Receita responsáveis por uma multa à Praiamar Indústria, Comércio e Distribuição, do grupo Cervejaria Petrópolis, de R$104,54 milhões, por sonegação de impostos estaduais e ICMS. Segundo a denúncia feita pelo Ministério Público Federal à 1ª Vara da Justiça Federal paulista, os dois foram contratados pela cervejaria, que fabrica a cerveja Itaipava, para desmoralizar fiscais da Receita.

Advogado tinha R$500 mil para subornar policiais

A estratégia de Valério foi contratar dois advogados em Minas, Ildeu Pereira e Eloá Velloso, para forjar a instauração de um inquérito criminal fraudulento contra Carlos de Moura Campos, diretor-adjunto de Administração Tributária da Receita, e Eduardo Fridman, supervisor de fiscalização da Diretoria de Administração Tributária.

Na casa de um dos advogados, em Minas, foram apreendidos R$500 mil em espécie, que seriam usados para subornar policiais, segundo o superintendente regional da PF em São Paulo, Leandro Daiello Coimbra. Os advogados mineiros chamavam Marcos Valério de coordenador, segundo os diálogos monitorados pela PF.

Eloá e Ildeu, com a ajuda de três agentes da PF aposentados, teriam levantado ilegalmente informações sobre os fiscais da Receita, além de difamá-los com falsas denúncias. Os delegados Silvio Salazar e Antonio Hadano, de Santos, que também foram presos, abriram o inquérito e receberiam pelo menos R$1 milhão. O valor foi apreendido em agosto, num aeroporto de São Paulo.

Outro nome citado no inquérito é do juiz aposentado José Ricardo Tremura, acusado pela PF de agir em favor da cervejaria em Boituva, onde fica a sede da empresa. Além das 17 prisões, sendo nove temporárias e oito preventivas, foram expedidos ontem mandados de busca e apreensão em São Paulo, Minas e no Espírito Santo. Marcos Valério e os outros presos desembarcariam ontem à noite em São Paulo, onde ficarão presos.

A Operação Avalanche começou há quase um ano, quando empresários do Centro de São Paulo denunciaram que estavam sendo achacados por um grupo do qual faziam parte policiais e empresários, que vendia facilidades para livrar as empresas de multas e impostos. Investigando esses grupos, os procuradores acabaram chegando à Cervejaria Petrópolis e a Marcos Valério. Segundo o MPF, embora os grupos se cruzem, não há ligação entre o publicitário e o esquema de achaque aos empresários paulistas.

Em nota, a Cervejaria Petrópolis negou ontem que tenha ligação com Marcos Valério. O dono da empresa, Walter Faria, não se pronunciou nem respondeu às acusações. Seu nome aparece várias vezes na denúncia oferecida à Justiça Federal. Nos manuscritos do advogado Ildeu, há referências a um "W" que, para a PF, é Walter Faria.

Em São Paulo, o ministro Tarso Genro, da Justiça, afirmou que a prisão de Marcos Valério não tem nenhuma vinculação "político-partidária". Respondendo se havia alguma ligação de policiais federais ou agentes públicos de Brasília, o superintendente da PF em São Paulo, respondeu:

- Quer saber se tem ligação com o mensalão, não é? Não, não tem.

O ex-ministro petista José Dirceu foi lacônico:

- Acho que, se ele cometeu crime, tem de responder por isso. Eu não fiz nada. Não tenho nada com isso. Ele nunca me procurou e nunca o procurei.

Sobre seu envolvimento no mensalão, Dirceu disse:

- Sou contra o foro privilegiado. Quero ser julgado.

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