Título: Derrocada histórica nas bolsas
Autor: Frisch, Felipe; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 11/10/2008, Economia, p. 29

Nova York tem maior queda semanal em 112 anos. Mercados perdem US$27 tri em um ano e voltam ao nível de 2004.

As quedas dos mercados acionários globais já provocaram perdas de US$27,068 trilhões em apenas um ano, quase a metade do que as ações em circulação valiam em outubro de 2007. Com isso, a soma das ações negociadas nas bolsas mundiais voltou ao valor de novembro de 2004: cerca de US$34 trilhões, segundo dados da Bloomberg. Ontem, em mais um dia de irracionalidade e forte oscilação, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 3,97%, aos 35.609 pontos, de volta ao nível de setembro de 2006. O Dow Jones teve a pior semana dos 112 anos de sua história, com queda de 18% - acima dos 17% de 1933, em plena Grande Depressão. O S&P também perdeu 18% na semana, e o Nasdaq, 15%.

Com a queda ontem, a Bovespa acumulou sete pregões consecutivos de queda, o que não ocorria desde setembro de 2001. Na semana, a perda acumulada foi de 20,01%, a maior em 11 anos. Em Londres, o FTSE teve sua maior queda em 21 anos: 8,85%. Na semana, recuou 21%, a maior perda desde outubro de 1987. Em Frankfurt, o DAX caiu 7%, e, em Paris, o CAC recuou 7,73%.

No Brasil, logo após a abertura, a Bovespa chegou a cair 10,19%, o que acionou o chamado circuit breaker - que interrompe os negócios por 30 minutos quando o recuo é maior que 10% - às 10h33m. Em duas semanas, foi a quarta vez que a bolsa lançou mão do recurso, que não era usado desde 1998. A forte queda do início do dia foi explicada pela continuidade do pessimismo da véspera, com as dificuldades da montadora General Motors (GM) e a concordata da seguradora japonesa Yamato, anunciando a chegada oficial da crise à Ásia. Pesou também o temor de que não saia o acordo entre o Morgan Stanley e o grupo financeiro Mitsubishi.

- Chegamos ao pico de desespero. A ficha está caindo de que a situação é complicada. Agora, ter banco e seguradora quebrando está no dia-a-dia do mercado - avaliou o estrategista da Pentágono Asset, Marcelo Ribeiro.

Na volta dos negócios, após a interrupção, a queda foi a 5,97%, com uma série de novas expectativas. Uma, de que o governo americano lançaria uma linha de crédito para a GM e outras empresas em dificuldade. Outra, de um pacote de ajuda mundial das reuniões do G-7 (grupo dos sete países mais ricos) e do G-20 (G-7 mais 13 emergentes). Chegou a circular o rumor de que o G-7 decretaria feriado bancário até que os ânimos se acalmassem, como ocorreu em 1929, o que foi desmentido.

Bovespa volta a valer o mesmo que em 2006

Em um ano, apenas na Bolsa de Nova York (Nyse), os prejuízos já são de mais de US$8 trilhões. A Bolsa brasileira foi uma das que mais perderam no período: mais da metade de seu valor de mercado. Saiu de US$1,306 trilhão em outubro do ano passado para US$644 bilhões, uma redução de US$661 bilhões que levou a Bovespa de volta ao valor de mercado de novembro de 2006 para as empresas com papéis em mercado. Boa parte das perdas se concentrou na última semana. Segundo a consultoria Economática, só a Nyse perdeu US$2,178 trilhões, e a Bovespa, US$195 bilhões.

(*) Com agências internacionais