Título: O que falta hoje é uma liderança
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Fonte: O Globo, 11/10/2008, Economia, p. 35
NOVA YORK. Em artigo publicado ontem no "Wall Street Journal", o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Paul Volcker afirma que os países já têm as ferramentas para lidar com a crise - agora precisam de lideranças para colocá-las em prática. Para Volcker, a acentuada queda e volatilidade das bolsas de valores mostram que "a crise financeira atingiu um ponto crítico".
"Mais importante, apesar de menos visível, o fluxo de crédito no sistema bancário e nos mercados financeiros está seriamente prejudicado - em parte, até congelado", afirma Volcker.
O ex-presidente do Fed considera uma recessão completa, hoje, inevitável, tendo em vista os altos déficits dos governos municipais e estaduais dos Estados Unidos e à instabilidade do câmbio nos mercados internacionais.
Para ele, isso é o resultado de "desequilíbrios econômicos e uma sucessão de bolhas e crises financeiras que cresceram ao longo dos anos". E afirma: "Não surpreende que a confiança nos mercados, bancos e administradores tenha sido gravemente corroída. Sem uma ação efetiva, o medo tomará conta, dificultando uma recuperação ordeira".
Mas Volcker ressalta que "há razões para crer que os meios para reverter esse quadro já estão disponíveis". Ele cita como exemplo as recentes medidas tomadas por autoridades americanas e européias, como o corte dos juros pelos bancos centrais, a elevação da garantia dos depósitos bancários e a injeção de capital em instituições financeiras em dificuldade, sem contar a estatização de empresas como as financiadoras hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, nos EUA.
"Nada disso é fácil. Algumas medidas trazem riscos para o contribuinte", reconhece Volcker. Mas ele ressalta que, mesmo que essas medidas pareçam desagradáveis, principalmente para os defensores do livre mercado, elas são necessárias para recuperar e manter os mercados funcionando.
"Agora é o momento de usar essas ferramentas. Para isso, a necessidade crítica é de uma liderança determinada, firme e persistente - para além de governos e Congressos". O ex-presidente do Fed ressalta ainda que os setores público e privado têm de estar envolvidos.
"A inevitável recessão pode ser moderada", diz Volcker. Ele defende ainda que sejam lançadas as bases para a reconstrução do sistema financeiro e que as intervenções extraordinárias dos governos, suspensas assim que for possível.
"Essa reconstrução será trabalho para um outro dia", diz, "de um novo governo nos EUA, de ministros de Finanças e bancos centrais trabalhando juntos". Ele afirma ainda que nunca mais se deve arriscar um tamanho estrago econômico "por uma estrutura financeira tão frágil, superexposta e opaca como a dos últimos anos".
PAUL VOLCKER comandou o Fed de 1979 a 1987