Título: País deve adotar política anticíclica
Autor: Jungblut, Cristiane; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 11/10/2008, Economia, p. 37

Para analistas, o plano vale na teoria, mas é difícil de ser implementado.

BRASÍLIA. Determinado a garantir crescimento de 4% no ano que vem, o governo pretende implementar pela primeira vez em 2009 uma política fiscal anticíclica, calcada na expansão de investimentos para segurar o ritmo da atividade econômica. O Executivo sacrificará a meta de superávit primário e pode descontar integralmente da meta fiscal , pela primeira vez, desembolsos do Projeto Piloto de Investimentos (PPI), o que derrubaria a economia para pagamento de juros a 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para analistas, o plano vale na teoria, mas não é fácil de ser implementado. Em 2008, apesar do compromisso de 3,8% do PIB, a equipe econômica entregará superávit de cerca de 4,5%. O PPI, com todas as ações, equivale a 0,5% do PIB. Abatido este percentual dos 3,8% do objetivo para 2009, permite economia de 3,3% sem ser farra fiscal.

A manobra, autorizada desde 2005 e nunca usada, será acionada se o nível de investimentos cair muito. O governo fará de tudo para ocupar a lacuna - manter o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) intocado e garantir recursos para o BNDES emprestar.

- Com o crédito agora à míngua, forçando o mundo a uma desaceleração brutal, não tem o menor sentido fazer uma freada brusca em gastos - disse um integrante da equipe econômica.

Para a equipe, o mundo já começou a adotar ações expansionistas para frear a recessão e o Brasil tem como seguir isso.

- Isso não significa que o Orçamento não será revisto diante de novos indicadores: as despesas de custeio podem ser contraídas para garantir os investimentos - ponderou ao GLOBO um integrante do governo. - A própria redução do primário já é uma forma de reacomodação do Orçamento.

Dirceu Bezerra Junior, da Rosemberg & Associados, diz que o aumento de gastos em investimentos requer uma arrecadação suficiente, o que pode não se materializar. O economista Francisco Pessoa Faria, da LCA, alerta para o risco inflacionário. Para o professor de economia da FGV Fernando de Holanda Barbosa Filho, a política fez sentido nos EUA na década de 30. No Brasil, decidir pelo aumento de gastos é prematuro:

- Corre-se risco de gerar mais inflação.