Título: O que é que a Zona Oeste tem
Autor: Duarte, Alessandra; Borges, Waleska
Fonte: O Globo, 12/10/2008, O País, p. 3

Região disputada pelos candidatos a prefeito concentra 25% do eleitorado e carências mil.

De cada quatro eleitores cariocas, um mora na Zona Oeste, região que não tem um hospital público municipal sequer. São 173 favelas só nos maiores bairros, e não é apenas nelas que há carência. Carência de transporte, de serviços de saúde, de saneamento básico, para ficar nos principais problemas. Na reta final da disputa pela prefeitura do Rio, os candidatos Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV) voltam-se para o oeste, a parte mais pobre e populosa da cidade. Fora do período eleitoral, porém, a região é deixada para segundo plano pelo poder público.

Com transporte precário, deficiência dos serviços de saúde, ruas sem asfalto e com esgoto a céu aberto, a Zona Oeste tem 1.082.638 eleitores em 19 bairros - excluídos aqui a Barra e Jacarepaguá, de perfil socioeconômico diferente da média da região. São os bairros de mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio. Segundo dados do Instituto Pereira Passos, o morador de Santa Cruz, por exemplo, vive em média 65 anos, 12 anos a menos que o de Copacabana.

Para essa população, o cotidiano da política passa pelos centros sociais mantidos por vereadores para oferecer, em troca de votos, um pouco do que é negado pelo poder público. Não há hospitais municipais próximos. Existem cinco unidades estaduais, que sofrem com a falta de profissionais e equipamentos para procedimentos rotineiros, como raios X.

- Minha vizinha tem sete filhos e está grávida mais uma vez, mas, até hoje, ela não conseguiu uma ligadura de trompas. Esta semana, o Hospital Pedro II está há três dias sem água - lamenta a promotora de vendas Silena dos Santos, de 30 anos.

O transporte também é um problema na região, que fica entre a Avenida Brasil e o litoral a partir do Recreio, ocupando praticamente metade do território do município. Morador de Santa Cruz, a 55 quilometros do Centro do Rio, o vigilante Rogério de Lima, de 39 anos, precisa pegar oito ônibus para ir e voltar ao trabalho, na Ilha do Governador, Zona Norte. E, para chegar às 10h na agência bancária onde trabalha, sai de casa às 6h30m. A rotina de seis horas perdidas no trânsito é sua maior queixa.

- Nesse tempo, eu poderia estar dormindo ou com minha família - diz o vigilante, que, a cada dia, gasta R$16,80 com passagens, num bairro que tem renda per capita de R$212,21, em média, enquanto Copacabana tem renda per capita de R$1.631,44.

Onde nem os candidatos vão

Apesar de ter a opção de fazer o trajeto de trem de Santa Cruz até Realengo, a promotora de vendas Selma dos Santos, 31 anos, conta que prefere pegar três ônibus a se arriscar:

- Com os tiroteios, pelo menos de duas a três vezes na semana o trem fica parado perto de Senador Camará e de Padre Miguel.

Os ônibus também são alvo dos maiores protestos dos idosos que moram em Bangu. O aposentado Luiz Brasil Matos, de 67 anos, lembra que os motoristas só aceitam a entrada de três idosos com gratuidade.

Nem a busca por votos fez com que os candidatos visitassem áreas mais distantes da Zona Oeste no primeiro turno. Há locais esquecidos, como Jardim Vitória, em Santa Cruz, que teve contato só com as placas dos candidatos. Lá, o material de campanha chegou de carroça. Moradora de Jardim Vitória, a dona-de-casa Laciane Ferreira Antunes, 21 anos, mostra a sua decepção com políticos. Segundo ela, apenas os "homenzinhos que colocam placas" apareceram no lugar:

- A gente pergunta: e o candidato? Eles dizem que ele está para marcar e vir aqui. E você nunca vê.

Cercada por mulheres e crianças, Laciane é interrompida pela desempregada Tatiana da Silva, de 20 anos:

- Precisamos de esgoto e luz. Na rua, à noite, só ficamos com a iluminação das casas - conta Tatiana.

A situação de abandono também é evidente na comunidade Cinco Marias, na Estrada do Magarça, em Pedra de Guaratiba. O local já foi declarado Área de Especial Interesse Social pela prefeitura, mas não tem esgoto. Muitas ruas não têm asfalto. Na rua do posto do Programa de Saúde da Família, que é de terra batida, há um esgoto vazando. Do outro lado da Estrada do Magarça, a comunidade de Conjunto dos Motoristas também sofre: além da falta de esgoto e asfalto, muitas casas não têm nem abastecimento de água.

Os candidatos a prefeito prometem amenizar os problemas da região. Eduardo Paes lembrou que a Zona Oeste é um "deserto sanitário". Caso eleito, disse que levará à área a maior parte das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) 24 horas que pretende implantar na cidade.

- Temos que aumentar a rede de saúde na região. Em parceria com o estado, vamos melhorar os trens e implantar o bilhete único. Faremos o esgotamento sanitário - disse Paes.

Para Fernando Gabeira, a Zona Oeste necessita de atenção especial:

- Vamos prestigiar forças políticas locais - disse Gabeira, planejando, para a região, a abertura do túnel da Grota Funda, a implantação da linha 4 do metrô, e a reorganização da rede de saúde. - Faremos um plano diretor de resíduos sólidos, para que todo o lixo da cidade não seja lançado em Paciência. Planejamos criar um programa de água, luz, esgoto e asfalto em áreas sem urbanização.