Título: Mantega culpa países ricos e cobra solução
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/10/2008, Economia, p. 38

No FMI, ministro repete proposta de crédito especial para nações com políticas econômicas sólidas.

WASHINGTON. Apoiado no indiscutível bom desempenho do Brasil, em particular, e dos países emergentes, em geral, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez ontem um discurso na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird) responsabilizando tanto os países ricos quanto o próprio Fundo pela atual crise financeira, a maior desde a Grande Depressão, nos anos 30. Os emergentes são hoje responsáveis por 75% do crescimento da economia mundial e em 2009 responderão por cerca de 100% dela, segundo previsão do FMI.

Mantega lembrou que, no momento, alguns dos emergentes começam a sofrer fortes abalos devido aos problemas criados pelos ricos. E, diante disso, apresentou duas propostas básicas ao Comitê Monetário e Financeiro do FMI (IMFC, na sigla em inglês). Uma delas é uma linha especial de crédito aos países que pratiquem políticas econômicas sólidas.

Ministro propõe também grupo para definir ações

Na prática, Mantega repetiu o pedido que tinha feito nesse mesmo fórum há dois anos, e que ontem foi também sugerido pelo Japão:

- Vocês se lembram de que eu disse, naquela época, que é quando não está chovendo que se conserta o telhado da casa. Essa linha tinha de ser criada justamente quando não precisávamos dela. E agora alguns países já dão sinais de que precisam dela. Então temos que apressar a aprovação da linha de crédito de emergência, de modo que o FMI possa disponibilizar os cerca de US$200 bilhões de que dispõe - disse ele, logo depois, em entrevista.

A segunda proposta brasileira foi a da criação do que ele definiu como "uma espécie de Sala de Situação", onde os ministros do G-20 (grupo formado pelos sete países mais ricos, mais Brasil e outros emergentes) para definir e implementar ações conjuntas que evitem novas crises.

- O G-20 não foi feito para funcionar em crises, para ter uma ação imediata em situações emergenciais. Portanto temos que repensar o grupo, de forma a torná-lo mais efetivo. Os ministros têm de se conectar rapidamente, tomar medidas comuns, conhecer a situação de cada país de modo que possamos neutralizar os efeitos negativos de uma situação como essa. O G-7 já tem isso. Das duas, uma: ou nós (os emergentes) somos integrados ao G-7, ou que se busque uma outra solução - disse Mantega.

Mantega quer novas regras para o sistema financeiro

Ele usou uma frase histórica, do então presidente americano na época Grande Depressão, também provocada pelos EUA, para sintetizar a crítica brasileira em seu discurso de ontem:

- Como observou Franklin Delano Roosevelt em 1936: "Estamos todos sofrendo as conseqüências do individualismo selvagem" - disse ele.

Mantega culpou pela crise, genericamente, "uma especulação intensa nos mercados financeiros, falta de uma regulação e supervisão adequadas, e mecanismos deficientes de resolução de crises em países importantes":

- Depois que for controlada a turbulência, teremos que estabelecer um novo conjunto de práticas para fortalecer e proteger o sistema financeiro, mas sem um viés em favor das práticas dos países avançados. (José Meirelles Passos, correspondente)