Título: Troca de críticas e acusações marca novo debate entre Gabeira e Eduardo Paes
Autor:
Fonte: O Globo, 12/10/2008, O País, p. 3
Agressividade na TV
Acordialidade que os dois candidatos à prefeitura do Rio, Eduardo Paes (PMDB) e Fernando Gabeira (PV), pregavam no início do segundo turno foi esquecida no debate de ontem à noite na TV Bandeirantes. De consenso, poucas propostas - como a condenação à aprovação automática nas escolas e a criação do bilhete único. Gabeira acusou a campanha do adversário de fomentar o "baixo nível" e a "política do ódio", com a divulgação de material calunioso. E afirmou que o peemedebista tenta jogar o "povo do subúrbio" contra ele. Paes, por sua vez, disse que Gabeira mostrou "enorme preconceito" ao chamar a vereadora Lucinha (PSDB) de analfabeta política e acusá-la de ter visão suburbana.
Gabeira disse que se desculpou com Lucinha e cobrou de Paes o teor da carta que este mandou para a primeira-dama, dona Marisa Letícia, em relação às críticas que o candidato do PMDB fizera a um dos filhos do presidente Lula, Fábio Luiz Lula da Silva, quando era tucano e integrava a CPI dos Correios.
- Quem demonstrou preconceito foi o Gabeira. Aliás, Gabeira, seu pedido de desculpas é muito estranho. É feito na terceira pessoa, e a grande diferença é que esse pedido de desculpas que fiz a uma mãe é um pedido de desculpas feito a uma pessoa - disse Paes, sem se comprometer a divulgar a carta.
O tom do debate foi dado na primeira pergunta, quando Gabeira criticou a política de segurança do governador Sérgio Cabral (PMDB), dizendo que ela se baseia no confronto e leva à morte de inocentes. Em resposta, Paes disse que o combate às drogas é fundamental para coibir a violência e lembrou a posição de Gabeira, que já defendeu a descriminalização da maconha.
Gabeira disse que é uma referência internacional por sua posição sobre as drogas e que foi condecorado pelo governo Lula, aliado de Paes, por suas propostas sobre o tema.
- O governador Sérgio Cabral é excessivamente liberal na questão das drogas. Ele falou que é importante legalizar as drogas. Eu disse: é importante, se a sua posição for essa e a polícia for reformada. Sem reforma, não há nem possibilidade de legalizar nem de reprimir. Por que este governo não tem nova política de segurança à altura do Rio? - perguntou Gabeira.
- Cabral trouxe o debate, que é importante. Bem diferente de fazer apologia. A droga, a disputa pelo tráfico são responsáveis pela destruição de famílias, pela violência, pelos bondes que caminham pela cidade. O que temos que tratar é o papel da prefeitura. O estado tem feito a sua parte - disse Paes, afirmando os índices de criminalidade caíram.
Agressão a militante provoca discussão
O episódio em que o militante do PV Francisco Miranda foi agredido por cabos eleitorais do PMDB, no sábado, também levou a troca de estocadas. Paes disse que a vítima da "suposta agressão" responde a quatro ações penais e é um "cabo eleitoral profissional". Gabeira disse que isso não justifica a agressão, "ou espancaremos quem não tem boa ficha penal".
- Antes de o candidato nascer eu já tinha perdido uma parte do fígado, do rim e do estômago, lutando a favor do povo brasileiro - disse Gabeira, afirmando que o adversário justificava a violência, o que Paes negou.
Se Gabeira tentou colar a imagem de Paes à de Cabral e de sua política de segurança - lembrando que o governador chamou as favelas de fábrica de criminosos -, Paes acusou o adversário de omitir o apoio do prefeito Cesar Maia.
Ao perguntar a Gabeira sobre saúde, Paes citou idéias que chamou de pitorescas do adversário, como o uso de avião e GPS no combate à dengue. Gabeira respondeu que sua primeira ação, se eleito, será fazer uma grande campanha de prevenção, criar um centro de referência no combate à dengue, e que o uso de aviões para monitorar focos é um detalhe. Paes repetiu que não faltam "propostas pitorescas" no programa de Gabeira para a saúde, e que vai agir imediatamente contra a dengue.
Gabeira voltou a citar a agressão ao militante do PV:
- O último secretário de Saúde do PMDB está na cadeia. Se vamos trabalhar nesse nível, a sua situação está muito mais desconfortável. Tem várias pessoas do seu partido que estão na cadeia. Acho que você não deveria falar que as pessoas com ficha suja merecem ser espancadas, porque isso desrespeita até os direitos de seus correligionários - disse Gabeira, referindo-se a Gilson Cantarino, secretário de Saúde na gestão da ex-governadora Rosinha Garotinho (PMDB).
Paes retrucou dizendo que o grupo de Garotinho não o apóia:
- Não há ninguém que me apóie que está na cadeia. Aliás, alguns desses que tiveram problema, que estão na cadeia, estavam fazendo aliança, combatendo minha candidatura no PMDB, se aliando ao Cesar Maia.
Paes insistiu, em vários momentos, em dizer que conhece a cidade, as prioridades da população, e que Gabeira "está fazendo turismo eleitoral", e que "às vezes acha que ele está descobrindo o Rio de Janeiro agora". Gabeira afirmou que a idéia de que o Rio é uma ilha é equivocada, que será preciso conversar com o país todo e com o mundo, em busca de soluções.
- Sou um político que há 16 anos se dedica a essa cidade. Não estou fazendo turismo eleitoral igual a você. Não me preocupei com a elevação do nível do mar em Pernambuco - disse Paes, se referindo a um projeto de Gabeira como deputado.
- Essa idéia de me apresentar como pessoa distante, como turista eleitoral, é totalmente equivocada. Comecei a trabalhar com 9 anos, vendia banana e ovo. Vim com 17 anos para o Rio. Fui maquinista de metrô, porteiro de hotel , cortei grama em cemitério. Fiz tudo, sou uma pessoa muito ligada ao povo brasileiro. Em certos momentos, como deputado federal, tenho que cuidar do país e do mundo. Se você acha que o Rio é uma ilha, está equivocado - respondeu Gabeira.
Por diversas vezes, Paes voltou a frisar que Gabeira tem o apoio do prefeito Cesar Maia, causando a reação do adversário. No último bloco, Gabeira lembrou o fato de Paes ter participado das primeiras gestões de Cesar, do qual foi subprefeito e secretário municipal:
- Sabe quantas vezes vi Cesar Maia na vida? Umas cinco. Você é cria dele, trabalhou toda a vida com ele, e me acusa de ter o apoio do Cesar Maia. Isso é de um cinismo tão grande que você deveria ter um pouco de escrúpulo - afirmou Gabeira.
- Não participo deste governo, participei do primeiro governo Cesar Maia, que foi de muitas realizações. Ao contrário do senhor, que nomeou no primeiro governo, no segundo e nomeou neste governo - disse Paes.
Em novo confronto, Gabeira disse que a saúde no Rio foi devastada pelo PMDB e afirmou que a política do estado no setor é de confronto, lembrando que Sérgio Cabral chamou médicos de vagabundos. O verde disse que "esses arroubos" são típicos de adolescentes.
- Tem que ter tranqüilidade no debate. Não são todos os políticos com quem você fala grosso que abaixam a cabeça - respondeu Paes.
Nas considerações finais, Gabeira voltou a acusar Paes de incitar a violência na campanha eleitoral.
- A diferença essencial entre nós é que não quero vencer a qualquer preço. Não faço campanha negativa, não distribuo camisetas para as pessoas usarem contra o outro, não crio panfletos apócrifos. O Rio precisa de um prefeito que não seja oportunista - disse Gabeira, afirmando que o próximo prefeito precisará "encarar" as milícias, a desordem urbana e uma Câmara com vereadores de fichas sujas.
Paes conseguiu direito de resposta e encerrou o debate:
- O candidato Gabeira faz acusações que não são verdadeiras. Jamais permitirei qualquer ato de agressão contra sua candidatura. Vamos vencer no debate. Pode ter essa certeza. Cuidado com as acusações que faz.
Após o debate, a assessoria de Paes informou que a ficha do militantes do PV Francisco Miranda foi passada pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.