Título: Menos investimentos para emergentes
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/10/2008, Economia, p. 17

Segundo associação mundial de banqueiros, porém, Brasil receberá mais recursos.

WASHINGTON. O impacto imediato e a curto prazo da crise financeira nos mercados emergentes, em geral, e na América Latina, em particular, deverá ser menor do que teme a maioria de seus governos - revelou ontem um levantamento realizado pelo Institute of International Finance (IIF), que reúne os 390 maiores bancos do mundo. Isso porque os emergentes, que em 2009 continuarão sendo responsáveis por quase todo o crescimento da economia mundial, serão os países mais atraentes para os investimentos.

Para o Brasil, porém, a expectativa da entidade é de alta no fluxo de capital privado líquido em 2009 para US$53,8 bilhões, ante US$46,1 bilhões em 2008. Em 2007, o valor foi de US$85,2 bilhões. Já para investimentos em bolsas, a previsão é que o montante chegue a US$10 bilhões em 2009, ante US$5 bilhões em 2008 e US$24,8 bilhões em 2007. O aporte de investimentos estrangeiros diretos deve chegar a US$12 bilhões em 2009, ante US$11 bilhões em 2008 e US$15,9 bilhões em 2007.

"A perspectiva de retorno (lucros) nos mercados emergentes continua parecendo mais atraente do que em mercados mais desenvolvidos", diz um trecho do informe divulgado na reunião anual do IIF, na capital americana.

Bill Rhodes, presidente e executivo chefe do Citicorp, e vice-presidente do IIF, confirma o cenário para os emergentes:

- Muitos dos emergentes instituíram reformas-chave e políticas macroeconômicas prudentes, que os tornaram mais resistentes do que no passado. Muitos deles estão bem posicionados para suportar as tempestades.

Aumento de fluxos privados na América Latina

Apesar disso, a entidade prevê redução no fluxo de capital privado para os países emergentes. Em 2007, essas economias tinham recebido US$900 bilhões. O montante estimado para 2008 é de US$619,2 bilhões, ante uma previsão de US$730 bilhões feita em março.

No ano que vem, quando as consequências da crise serão mais notórias, o volume deverá ser de US$561,9 bilhões. A cifra de investimentos diretos, no entanto, terá uma retração bem menor: cai de US$287,6 bilhões em 2008 para US$282,3 bilhões em 2009.

As perspectivas são ainda melhores para a América Latina. Os fluxos privados em geral vão aumentar de US$111,6 bilhões este ano para US$114,6 bilhões em 2009. Em termos específicos de investimento direto, a queda será mínima: o fluxo será reduzido em apenas US$500 milhões, baixando de US$60,2 bilhões para US$59,7 bilhões. A maior razão para a desaceleração do influxo de capitais nos emergentes é a substancial redução dos empréstimos feitos por bancos internacionais.

- Essa é a crise mais séria em meus 50 anos como banqueiro. Nem a crise da dívida dos anos 80 nem a da Ásia, nos 90, provocaram uma erosão de confiança no mercado como a de agora - disse Rhodes.

Já o presidente do IIF e do Deutsche Bank AG, Josef Ackermann, afirmou que a categoria está consciente dos erros cometidos e do que é preciso fazer para corrigi-los. Ele disse ainda que o momento atual é fundamental para o futuro dos mercados:

- Esta noite (de domingo) e a manhã da segunda-feira são momentos muito cruciais - apontou Ackermann. - Acredito que temos que fazer o que for necessário para trazer a confiança de volta, ainda que seja um pouco artificial com ajudas de governos e garantias.

(*) Com agências internacionais