Título: Banco Mundial e FMI vêem aumento da pobreza
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 13/10/2008, Economia, p. 17

Zoellick alerta que crise se soma à alta de alimentos e petróleo, que geraram mais 100 milhões de pobres.

WASHINGTON. A crise deflagrada nos últimos meses pelos aumentos dos alimentos e do petróleo, somada aos primeiros impactos da atual crise financeira, já provocaram um enorme retrocesso nos avanços que os países em desenvolvimento haviam realizado. Por causa daqueles fenômenos, nada menos do que 100 milhões de pessoas voltaram à pobreza este ano.

- E o número vai crescer! - afirmou o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, depois de revelar a cifra.

Segundo ele, a rapidez e a intensidade do aumento daquele índice vão depender da agilidade e profundidade das ações que sejam tomadas pelos países ricos para conter a crise.

- Essa é uma catástrofe construída pelo homem. As ações e respostas para superá-la estão em nossas mãos. Nós devemos garantir, também, que, ao mesmo tempo em que os governos voltam sua atenção para os seus problemas internos, eles não dêem um passo para trás em seu compromisso de aumentar a ajuda aos países necessitados - ressaltou Zoellick ao fim da longa reunião do Comitê de Desenvolvimento do Bird e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do Fundo, que dois dias antes já havia dado um puxão de orelhas nos países ricos - lembrando que, apesar de terem prometido milhões de dólares em ajuda aos mais pobres, ainda não tinham colocado o dinheiro à disposição destes -, também definiu a crise financeira como uma catástrofe. Segundo ele, a crise vai triplicar os problemas que já haviam sido provocados pela alta nos preços de alimentos e petróleo.

- A crise financeira acrescenta uma crise às crises que já existiam. Ela é um furacão diferente para os países do Caribe, por exemplo. Ao nos concentrarmos na crise financeira não podemos nos esquecer das outras duas - afirmou Strauss-Kahn.

Ele revelou ainda que, nas últimas semanas, "aumentou incrivelmente o número de países solicitando ajuda financeira ao FMI".

Zoellick, a seu lado, afirmou que os países em desenvolvimento correm o risco de ser derrotados em seus esforços para melhorar o nível de vida de sua população, devido a uma prolongada contração no crédito ou uma sustentada desaceleração global.

- Os grupos mais pobres e vulneráveis correm os riscos mais sérios de sofrer mais com essas crises. Em alguns casos, os danos poderão ser permanentes - advertiu o presidente do Bird.

O organismo tem uma lista de 28 países que podem enfrentar dificuldades financeiras, como Jordânia, Líbano, Camboja, Sri Lanka, Jamaica, Haiti, Etiópia, Nepal e Costa do Marfim.

- Os fluxos de ajuda precisam ser mantidos. O encontro de hoje foi unânime nesse ponto - afirmou Zoellick.

(*) Com agências internacionais