Título: Marta escolheu o pior caminho para perder a eleição
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 14/10/2008, O País, p. 13

Em 2002, o publicitário Duda Mendonça inventou o "Lulinha Paz & Amor" porque a maioria dos brasileiros se recusava a eleger o "Lula ex-metalúrgico quase sempre de mau humor", derrotado três vezes antes.

A maioria dos paulistanos esperava uma Marta menos Favre e mais Suplicy no momento em que ela tenta se reeleger prefeita pela segunda vez.

Desesperada com a derrota que se avizinha, Marta mandou todos os escrúpulos às favas e tentou arrombar a porta da vida privada do seu adversário.

Tem cabimento, sim, examinar a trajetória política de Kassab - assim como Kassab, se quisesse, poderia examinar a trajetória política de Marta.

Não tem cabimento, o menor cabimento, discutir-se se Kassab é casado ou solteiro, se tem filhos ou não. Suponho que ele seja solteiro, sem filhos. Do contrário já teria se exibido por aí na companhia da família.

Sim, mas o que há de relevante nisso? No que pode mudar o voto do eleitor a informação sobre o estado civil de Kassab?

Sejamos claros: a ultra-liberal sexóloga Marta, que não renuncia ao sobrenome do ex-marido, quer sugerir que Kassab é gay. Correligionários no Rio do candidato a prefeito Eduardo Paes (PMDB) se valem do mesmo jogo baixo e sujo contra Fernando Gabeira (PV).

No caso de Gabeira, bocas de aluguel percorrem a Zona Oeste da cidade e faixas da Zona Sul disseminando o boato de que ele é gay, viciado em drogas e ateu.

De Lula, em 1989, a turma de Fernando Collor disse que congelaria os depósitos das cadernetas de poupança. Foi Collor que congelou. De Gabeira se diz que reforçará com drogas a merenda escolar.

O instituto Datafolha pôs Kassab 17 pontos percentuais à frente de Marta em pesquisa de intenção de voto divulgada na semana passada. O Ibope divulgará hoje nova pesquisa sobre a eleição em São Paulo.

Marta tinha dois caminhos igualmente limpos para sair do episódio eleitoral ainda em curso: o primeiro, contrariar todas as previsões e derrotar Kassab. O segundo, perder para ele, mas manter intacto seu expressivo patrimônio eleitoral e a imagem de uma política respeitável.

Tudo indica que Marta escolheu um terceiro caminho - o do abastardamento.