Título: França diz que suas instituições são sólidas, mas lança pacote de 360 bi
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Fonte: O Globo, 14/10/2008, Economia, p. 21

Maior parte do valor é destinada a garantir empréstimos interbancários.

PARIS. A França anunciou ontem um plano de 360 bilhões para impedir a falência de seus bancos. A maior parte deste dinheiro - 320 bilhões - será mobilizada para garantir os empréstimos entre bancos, que foram praticamente suspensos com a crise. O restante será usado para recapitalizar os bancos, em caso de risco de falência. Até agora, nenhum banco francês pediu ajuda ao governo. A França insiste em que suas instituições financeiras estão sólidas. Mas a rapidez e a urgência com que a França e outros 14 países da zona do euro estão reagindo mostra que os riscos são bem reais.

- O dinheiro não circula mais - reconheceu o presidente Nicolas Sarkozy, acrescentando que tudo deve ser feito "para evitar que a crise se agrave".

Ações da Bolsa de Paris tiveram alta histórica: 11,18%

O fim do crédito entre os bancos está no centro da crise. Os bancos, por temor e falta de confiança, não estão emprestando entre si. Ao oferecer garantias para os empréstimos interbancários, o governo espera o fim da crise.

- Ao oferecer a garantia do Estado, esperamos colocar um fim à crise de confiança e impedir que os franceses paguem um custo exorbitante que teríamos com o fracasso de todo o sistema bancário - justificou o presidente.

No domingo, chefes de Estado e de governo dos 15 países da zona do euro aprovaram um pacote de medidas sem precedentes para combater a crise global, dando um forte sinal aos mercados, que reagiram bem hoje. A Bolsa de Paris fechou o dia com a disparada de 11,18%, a maior alta desde a criação do índice CAC-40.

Ontem, ao final de uma reunião extraordinária do conselho de ministros, Sarkozy disse que antes do fim da semana o governo terá todos os instrumentos legislativos para aplicar o plano. O governo está criando uma empresa ajudar os bancos. Os empréstimos feitos por essa empresa serão garantidos pelo governo, explicou o presidente.

As garantias francesas serão dadas até 31 de dezembro de 2009 e poderão durar cinco anos. Mas o governo quer uma contrapartida, como, por exemplo, a limitação das remunerações exageradamente altas dos dirigentes das instituições financeiras. O presidente repetiu ontem que não vai deixar nenhum banco francês falir.

Mas o ministro do Orçamento, Eric Woerth, admitiu que o plano francês, se for aplicado, "aumentará a dívida" do Estado. A dívida pública francesa deverá atingir 65,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no fim deste ano, acima dos 60% autorizados pelos tratados europeus.

Países árabes também anunciam plano de socorro

Os países do Golfo entraram na onda dos pacotes de socorro ao sistema financeiro, segundo o "Wall Street Journal". O governo dos Emirados Árabes Unidos disse que vai garantir depósitos bancários domésticos e empréstimos interbancários entre instituições financeiras. Não foram divulgados detalhes. No mês passado, o banco central dos Emirados Árabes havia prometido liberar US$13,6 bilhões para os bancos.

O governo da Arábia Saudita, por sua vez, disse que já está disponível uma linha de crédito de US$40 bilhões aos bancos do reino. Até agora, no entanto, nenhuma instituição fez uso do programa, segundo o governo. Ambos os anúncios foram feitos no domingo. A Arábia Saudita também anunciou corte de 0,5 ponto percentual da sua taxa básica de juros, seguindo a ação coordenada de bancos centrais na semana passada.

Autoridades dos dois países disseram que seus sistemas bancários permanecem sólidos e relativamente pouco vulneráveis à crise mundial. Porém, tanto os dois países quanto outras nações do Golfo têm se esforçado para passar uma imagem de segurança aos investidores. Desde sua reabertura depois de um feriado religioso no início deste mês, as bolsas do Golfo Pérsico têm caído dramaticamente, com perdas de bilhões de dólares.

O Qatar anunciou um plano de US$5,3 bilhões para compra de ações de bancos. Num momento em que os preços do petróleo despencam, alguns economistas começaram a pôr em dúvida a sustentabilidade do crescimento na região do Golfo.