Título: Cimento eleitoral
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 15/10/2008, O País, p. 3

Crivella anuncia apoio a Paes, que elogia o Cimento Social e agora tem nove partidos

Com a estratégia, no primeiro turno, voltada para a associação insistente de Eduardo Paes (PMDB) à faixa mais rica do eleitorado, o candidato derrotado do PRB, Marcelo Crivella, declarou ontem apoio ao ex-adversário, se dizendo confiante de que, se eleito, Paes fará um governo "sobretudo para os mais pobres". Em carta endereçada a Paes, com críticas à imprensa, Crivella, que teve no primeiro turno 19,06% dos votos, disse que esperou a manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Vai agora, segundo Paes, gravar participação no horário eleitoral.

Com o PRB, Paes já conseguiu atrair a cúpula de dez partidos: PT, PCdoB, PDT, PSB e PSC, além de PMDB, PTB, PP e PSL, que já o apoiavam. Gabeira, que tinha PV, PSDB e PPS, atraiu só o DEM, além de dissidentes dos partidos que estão com Paes.

- Fico muito satisfeito com o apoio (de Crivella). Ele é uma liderança expressiva, que me pediu absolutamente nada. Ele não se pronunciou até agora porque certamente estava lambendo as feridas - disse Paes.

Mais cedo, apoio ao Cimento Social

Mais cedo, o candidato, ao ser perguntado sobre o Cimento Social - projeto de Crivella que usou o Exército no Morro da Providência, onde três jovens foram entregues por soldados a traficantes que os mataram - dera pistas do acordo:

- Acho que é uma opção (o Cimento Social) para melhorar a condição de habitabilidade das casas das pessoas. É uma boa idéia, um projeto interessante. Pode ser implementado (o Cimento Social).

Ao comentar o apoio de Crivella, ele disse que não assumiu o compromisso de fazer a obra. Mas voltou a elogiar:

- Com adaptação, não há nada contra.

Crivella, na carta, em que demonstra abatimento, informa ter sido procurado por Paes logo depois de proclamado o resultado no primeiro turno - que chama de "inesperado revés eleitoral". A informação contraria versão dada até a semana passada pelo peemedebista, que repetia não ter se comunicado com o senador.

O senador sustenta que não houve negociação de cargos em troca do apoio. E afirmou ainda que, se Paes for eleito, este vai manter e ampliar as políticas sociais do governo federal. Integrantes da campanha de Gabeira disseram ter sido procurados por emissários de Crivella, que teriam pedido secretarias e a continuação do Cimento Social em troca do apoio. Gabeira teria recusado.

No primeiro turno, as visões dos dois candidatos divergiram radicalmente em pelo menos um tema relacionado à ordem urbana: Crivella era contra a fiscalização das vans pelo Detro, e Paes, a favor. O senador dizia que seria nocivo ter o PMDB do governador Sérgio Cabral e de Paes à frente do estado e da cidade.

COLABOROU: Chico Otavio