Título: Petistas fazem ataques homofóbicos a Kassab
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 15/10/2008, O País, p. 12

Cabos eleitorais que acompanhavam Marta agridem eleitores de adversário; candidata tenta encerrar assunto.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A propaganda eleitoral da candidata do PT a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, questionando a vida pessoal do adversário, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), deflagrou uma onda de insultos homofóbicos ao prefeito. Ontem, cabos eleitorais de Marta foram vistos ofendendo eleitores de Kassab por duas vezes. A candidata, que se isentou de responsabilidade mas defendeu a propaganda, deu o assunto por encerrado.

De manhã, depois da assinatura de um termo de compromisso com o Sindicato dos Frentistas num posto de gasolina no Cambuci, com a presença da ex-ministra, cabos eleitorais de Marta hostilizaram um casal de eleitores de Kassab que passava pelo local.

- O Kassab é veado! Você vai votar em um veado! - gritava uma apoiadora de Marta, que se recusou a revelar a identidade.

O casal saiu às pressas do posto para não ser agredido pelos cabos eleitorais do PT.

Horas depois, durante caminhada pelas ruas de Ermelino Matarazzo, o insulto homofóbico se repetiu. Quando Marta foi interpelada na rua por um homem, a cabo eleitoral petista Elaine de Paula reagiu:

- Ele falou tão desmunhecado que deve ser do Kassab. É bicha igual.

Perguntada sobre o motivo da ofensa, respondeu:

- O povo sabe.

LGBT critica Marta, mas não a exclui de indicações

Ao comentar as agressões cometidas por seus cabos eleitorais, a candidata se desculpou e tentou pôr uma pedra sobre o assunto.

- Grosseria e baixaria eu acho um horror. Se isso ocorreu, peço desculpas ao casal, e não tenho mais nada a dizer sobre este assunto - disse Marta.

Mas a polêmica em torno da propaganda, que perguntava se Kassab é casado ou tem filhos, continuou.

- Ela fez uma pergunta indevida que beira a homofobia. É lamentável para uma pessoa com a biografia dela - afirmou ontem o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, bissexuais e Transgêneros (LGBT), Toni Reis.

Segundo ele, apesar do deslize, Marta continuará na lista da associação de candidatos comprometidos com as reivindicações dos homossexuais:

- Ela tem um saldo muito grande com a gente.

No Senado, em Brasília, o caso provocou polêmica. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), ex-marido de Marta, tentou defendê-la, mesmo discordando da tática da campanha dela - reprovada por outros petistas, como o senador Aloizio Mercadante (SP) e a líder da bancada, senadora Ideli Salvatti (SC).

- Foi um equívoco. Enfiaram o pé na jaca - reconheceu a líder petista.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), foi duro:

- Não ser casado seria sinônimo, vou ser bem franco, de homossexualidade? Não sou preconceituoso em relação a homossexual, mas talvez seja um pouco em relação ao futebol: é melhor ser solteiro do que ter que torcer pela Argentina no jogo Brasil x Argentina - alfinetou Virgílio, numa referência ao fato de a petista ser casada com o franco-argentino Luís Favre.

- Eu recomendei à Marta que não venha mais a utilizar isso. Teria sido uma iniciativa dos responsáveis pela campanha - lamentou Eduardo Suplicy.

"O esforço pessoal do Paulinho me comove"

Marta, que vem batendo na tecla dos laços de Kassab com os ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta, participou ontem de um evento com o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), da Força Sindical, citado no inquérito da Polícia Federal que investiga a ação de uma quadrilha que atuava intermediando empréstimos do BNDES.

Anteontem, o deputado se reuniu com 70 entidades que, a exemplo dos frentistas, apoiaram o tucano Geraldo Alckmin no primeiro turno e agora estão com Marta. Ela se disse comovida com o empenho de Paulinho na campanha.

- É uma coisa que me comove, Paulinho, o esforço pessoal que você está fazendo.

Perguntada se não há risco de o DNA de Paulinho contaminar sua imagem, respondeu:

- Ele é presidente da Força Sindical, deputado federal e atua na política. Eu sou do PT, tenho DNA transparente em toda a minha vida.

COLABOROUAdriana Vasconcelos