Título: Tamanho do estrago ainda é desconhecido
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 15/10/2008, Economia, p. 26

Equipe econômica espera por balanços das empresas para avaliar impacto da crise no país.

BRASÍLIA. A recuperação das bolsas de valores e a queda na cotação do dólar segunda-feira e ontem trouxeram um pequeno alívio para a área econômica do governo que, porém, ainda está preocupada com os efeitos da crise financeira internacional na economia brasileira. Segundo uma fonte, se a situação verificada nas duas últimas semanas, com histeria nos mercados mundiais, não mais se repetir, ainda assim será preciso dimensionar o tamanho do estrago, o que só poderá ser feito no fim do ano, com a análise dos balancetes semestrais das empresas.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, passou o dia na embaixada brasileira em Washington - onde participou, na semana passada, da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) - e fez teleconferência com sua equipe. Mantega conversou por telefone também com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e fez um relato sobre a situação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava em Nova Délhi.

A avaliação é que, aparentemente, o pior da crise já passou, mas isso não significa que tudo terminou. Um dos temas da teleconferência de Mantega com a equipe econômica foi a elaboração de novas ações para destravar o financiamento à agricultura. Uma delas foi anunciada ainda ontem e liberou R$4,5 bilhões. Foram amarradas ainda entre Mantega e Meirelles o novo relaxamento nos compulsórios, que saiu no fim da noite - dentro dos novos R$100 bilhões que o BC avisara na segunda-feira que poderá liberar.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve aprovar hoje, em nova reunião extraordinária, medidas para estimular o plantio da próxima safra de grãos. Segundo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, uma medida consiste na reclassificação de risco dos produtores que renegociaram suas dívidas e estão em dia com o pagamento das prestações. Como havia inadimplência no passado, os agricultores passaram a ser considerados clientes de alto risco.

A grande vantagem do Brasil, disse uma fonte do governo, é que o país não entrou no mercado do subprime, que gerou a crise nos EUA e provocou um efeito-dominó no resto do mundo.

- Nossa taxa de juros é tão boa, que não precisamos investir em papéis exóticos -, brincou a fonte. - A hora da verdade vai chegar em alguns meses, quando descobrirmos o que aconteceu com as empresas brasileiras.

No Banco Central, mesmo com o segundo dia de respiro nos mercados financeiros, o sinal de alerta não foi diminuído ontem, porque a liquidez continuava bastante restrita.