Título: O que Quintão tem? Ou o que Lacerda não tem?
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 16/10/2008, O País, p. 10
Para especialistas, vantagem do peemedebista sobre candidato de Aécio e Pimentel em BH mostra incoerência da aliança.
BRASÍLIA. A vantagem de quase 20 pontos percentuais do candidato do PMDB à prefeitura de Belo Horizonte, Leonardo Quintão, sobre o empresário Márcio Lacerda (PSB) - lançado e apoiado pelo governador Aécio Neves (PSDB) e pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) - é vista por especialistas como resultado da reação do eleitor à falta de coerência na aliança local entre tucanos e petistas. Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO avaliam que o fenômeno eleitoral na capital mineira foi consolidado, ao longo do primeiro turno, à medida que a campanha avançava no país com PSDB e PT em forte disputa nas grandes municípios, inclusive em outras cidades de Minas.
Outro fator determinante para o fenômeno Quintão é atribuído à falta de carisma e de identidade própria de Lacerda, que ficou mais evidente diante da boa comunicação pessoal de Quintão. Lacerda se recusou ainda a participar da maioria dos debates no primeiro turno, quando liderava a disputa. A situação mostra, na avaliação desses especialistas, a dificuldade dos dois principais caciques mineiros de transferir votos.
- A falta de identidade da candidatura de Lacerda ficou clara na cabeça do eleitor. Houve forte reação de ministros petistas que não concordavam com a aliança entre Pimentel e Aécio. Além disso, Lacerda é um neófito na política eleitoral. Isso mostra que, no Brasil, é muito difícil um político popular eleger um poste. Mesmo sendo um poste muito rico - argumenta o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.
Ricardo Guedes, do Instituto Sensus de Belo Horizonte, reforça a análise de que a população estranhou a aliança PT-PSDB. Para ele, em vez de Lacerda angariar a soma da aprovação dos dois políticos que o apadrinharam, o que aconteceu foi a soma das rejeições de petistas e tucanos que não aceitavam a aliança com antigos adversários.
- Essa aliança não mostrou um recheio político consistente. Seria o mesmo que, no plano nacional, uma aliança entre Lula e o Serra. O eleitorado não iria aceitar - avaliou Guedes.
Para o senador e ex-prefeito de Belo Horizonte Eduardo Azeredo (PSDB-MG), as pesquisas refletem erros e acertos das campanhas. Enquanto Quintão usou um tom emocional, diz, Lacerda fez uma propaganda de televisão ancorada na imagem de Aécio e Pimentel. Isso teria sido bom num primeiro momento, mas depois, observa Azeredo, a população se cansou.
Especialista em pesquisas, o mineiro João Francisco Meira, do instituto Vox Populi, acredita que o maior problema foi de comunicação, uma vez que, segundo ele, pesquisas feitas há quatro meses indicavam que 80% do eleitorado aprovavam a parceria entre Aécio e Pimentel:
- O que fica claro é que, a partir de um determinado momento, a campanha de um perdeu eficácia, acontecendo o inverso na outra candidatura. Até porque o que é relevante numa campanha majoritária é a comunicação na televisão. Essa eleição pode ser explicada pelo que aconteceu na televisão.
Aécio e Pimentel esperam ainda mudar quadro
Aécio e Pimentel esperam ainda reverter esse quadro.
- Essa pesquisa é o retrato de um momento pós-eleitoral, que reflete ainda a onda do primeiro turno em favor do candidato do PMDB. Não acho que o quadro seja irreversível. O clima nas ruas já começou a mudar e a vitória de Quintão seria um retrocesso para a cidade. Estamos numa corrida contra o tempo, mas vamos conseguir mostrar o despreparo do nosso adversário - disse Pimentel.
Aécio recomendou cautela aos que já cantam vitória:
- Não há nada consolidado. Há cerca de duas semanas, a vantagem era nossa, e o segundo turno está apenas começando. Eleição só se decide na urna.
Uma eventual vitória de Quintão, porém, reforçaria as avaliações que identificam Aécio como um dos grandes derrotados das eleições.
- A derrota de Aécio não se restringirá apenas à derrota do seu projeto de unir PT e PSDB. Ela se torna mais grave por causa da provável vitória do governador paulista José Serra em São Paulo. Ele ganha força no PSDB para ser o candidato do partido à Presidência em 2010 - disse o cientista político Murilo Aragão.
oglobo.com.br/pais/eleicoes2008