Título: Lula ameaça retomar compulsórios de bancos
Autor: Costa, Florencia
Fonte: O Globo, 16/10/2008, Economia, p. 27

Presidente critica instituições que receberam ajuda do BC e não estão oferecendo empréstimos interbancários.

NOVA DÉLHI. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Nova Délhi, que se os bancos brasileiros esconderem o dinheiro que deveria ser destinado a empréstimos, o Banco Central (BC) vai reter os recursos do compulsório que foram ofertados para irrigar o sistema bancário. Segundo o presidente, a grande preocupação do governo é dar liquidez ao mercado e garantir condições de empréstimos, daí a decisão de liberar R$100 bilhões para o sistema financeiro por meio do compulsório.

- Os bancos não podem esconder o dinheiro. O Banco Central está acompanhando isso. Ninguém vai poder dizer que está faltando dinheiro no Brasil para financiamentos. Se isso acontecer (os bancos retiverem o dinheiro), o Banco Central vai ter que tomar o dinheiro de volta. Vai pegar o compulsório outra vez - disse Lula em Nova Délhi, onde participou da reunião de cúpula do Ibas, grupo de países emergentes que reúne Índia, Brasil e África do Sul. - O Banco Central só vai liberar o dinheiro à medida que houver a concessão dos empréstimos.

Lula advertiu que a crise pode chegar aos países emergentes se houver recessão nos EUA e na União Européia (UE), daí a necessidade de medidas para evitar isso. Perguntado se as instituições financeiras também estão com problemas devido à crise, Lula disse que os bancos grandes não estão em dificuldades:

- Detectamos problemas nos bancos de investimentos pequenos. Foi por isso que já há algum tempo tomamos as medidas para garantir que os bancos maiores pudessem comprar as carteiras dos menores, para não permitir que os bancos menores fiquem com a espada na cabeça.

Lula: em crise, não vale deixar a vida nos levar

O presidente Lula disse que o governo não vai ajudar empresas que estão em dificuldades por causa da crise, mas emprestar dinheiro para quem tenha condições de tomar empréstimos:

- As empresas que apostaram e perderam têm que arcar com suas responsabilidades. Obviamente o Brasil estará disposto a criar condições para que o sistema financeiro empreste dinheiro pela lógica de mercado.

Lula ressaltou ainda a importância de o país manter altos níveis de reserva em dólar.

- Isso é extremamente importante porque dá segurança ao país. Vamos continuar fazendo reserva porque é um alívio.

Ele descartou qualquer tipo de pacote econômico, lembrando que no passado isso era comum e muitas vezes os efeitos positivos desapareciam em três meses.

O presidente admitiu que, se houver uma recessão, o Brasil pode enfrentar problemas, mas ressaltou que o desenvolvimento e a contratação de obras públicas retardaram a chegada dos efeitos da crise no país.

- Sabemos que se tivermos uma recessão pode causar problemas ao Brasil, mas ao em vez de ficar chorando, temos que aumentar nossas exportações. Nesse negócio de crise econômica não vale a música do Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar" - afirmou ele.

Lula disse que a crise dominou os debates de ontem que encerraram o encontro dos chefes de Estado do Ibas:

- Os países emergentes construíram uma solidez econômica e fiscal que permite discutir em igualdade de condições (soluções para a crise financeira) e até dizer para os países que estão em crise como devem se comportar na área econômica para não permitir que o sistema financeiro vire o cassino que virou com o subprime.