Título: Desemprego aumenta mais entre os negros
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 16/10/2008, Economia, p. 0

Desigualdade racial caiu na renda e na educação, mas crianças pretas e pardas são 75% das analfabetas na escola.

A queda da desigualdade racial nos indicadores sociais do país de 1995 a 2006 não foi suficiente para equilibrar o peso da população negra entre os desempregados. Dos 3,6 milhões a mais de trabalhadores à procura de emprego no período, 60,4% eram pretos e pardos, fazendo assim a taxa de desemprego subir de 6,2% para 8,7%. Entre os brancos essa parcela da força de trabalho sem emprego subiu de 5,8% para 7,7%. Os dados sobre a assimetria entre negros e brancos foram divulgados ontem pelo Primeiro Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, do Instituto de Economia da UFRJ:

- O aumento do desemprego foi puxado pelas mulheres e pelas mulheres negras, que têm taxa de desemprego de 13%, mais que o dobro dos homens brancos que é de 6%. É a dupla discriminação. Elas ganham menos e o trabalho é precário - explicou o economista Marcelo Paixão, responsável pelo relatório.

No rendimento, o comportamento foi oposto. Houve ganho maior de renda e o abismo racial diminuiu. Em 1995, os brancos ganhavam 113% acima dos brancos. Essa diferença caiu para 93,3% em 2006.

- Os aumentos do salário mínimo e o controle da inflação tiveram papel importante na redistribuição de renda. Os programas sociais, como Bolsa Família e outros, também contribuíram para a queda da desigualdade - diz Marcelo Paixão.

Segundo o economista, 70% dos beneficiados pelo Bolsa Família são negros.

Na educação, os indicadores melhoraram, segundo o relatório, mas ainda demonstram distância grande entre os grupos raciais. Segundo Paixão, são negros 75% dos 2,1 milhões de estudantes de 7 a 14 anos que estão ainda analfabetos, conforme mostrou a Síntese dos Indicadores Sociais de 2007, divulgada pelo IBGE no fim de setembro.

- Mesmo triplicando o número de negros nas universidades, a parcela subiu apenas de 2% para 6% de 95 a 2006. É pouco, não afetou significativamente a natureza da desigualdade. Cinqüenta por cento das crianças negras de 7 a 10 anos no Brasil já estão atrasadas na escola.

Crise pode limitar ganhos na questão racial

O economista teme que as conquistas dos últimos anos fiquem comprometidas com a crise financeira que deixará seus efeitos no Brasil. Principalmente no emprego de negros. Como a situação já se complicou nos últimos anos, com o país crescendo menos no ano que vem, o quadro pode se agravar mais ainda:

- Com o mercado de trabalho mais aquecido, as perspectivas já não eram boas, com a crise, esses trabalhadores tendem a sofrer mais. São menos escolarizados e podem perder mais.

Ele teme também que governo tenha dificuldade para manter e ampliar os programas sociais que ajudaram a reduzir a distância racial:

- Não sou otimista.

O relatório trouxe dados de mortalidade, constatando que aumentou a presença de negros entre as vítimas de homicídios: em 99, representavam 46%; em 2005, subiu para 60,2%.