Título: Policiais civis em greve enfrentam PMs em SP
Autor: Farah, Tatiana; Ferreira, Rodrigo
Fonte: O Globo, 17/10/2008, O País, p. 3

Serra diz que há uso político-eleitoral e acusa PT, Força e CUT

Tatiana Farah e Rodrigo Ferreira*

Às vésperas das eleições, policiais civis em greve e soldados da Polícia Militar se enfrentaram ontem à tarde nas imediações do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, deixando pelo menos 23 feridos. Aproximadamente dois mil policiais civis, em greve há um mês, tentaram invadir o Palácio e foram contidos por centenas de PMs, que dispararam balas de borracha e usaram bombas de gás contra os manifestantes. O governador José Serra (PSDB) disse que o movimento tinha conotações eleitorais. Ele acusou PT, CUT e Força Sindical - dirigida pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), que apóia a candidatura de Marta Suplicy (PT) - de terem comandado o protesto, incitando os manifestantes.

A tropa de choque da PM foi destacada para proteger o Palácio da invasão. Paulinho, que fez discurso para os policiais em cima de um carro de som, confirmou participação no movimento e disse que os policiais de São Paulo ganham os mais baixos salários do país.

O confronto começou por volta das 16h na Rua Padre Lebret, no Morumbi, área nobre de São Paulo, e durou mais de meia hora. O protesto marcava um mês de paralisação dos policiais civis, que pedem um aumento de 15%, além de reajustes para 2009 e 2010. Até as 20h, milhares de policiais ainda se concentravam na porta do Palácio dos Bandeirantes gritando palavras de ordem contra o governo, com a expectativa de serem atendidos pelo governador. Serra, no entanto, não recebeu os grevistas.

- Não dá para negociar com gente de arma na mão. Armas são para proteger o povo. Reivindicação se faz na mesa de negociação - disse Serra.

O secretário-chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, afirmou que os grevistas só serão recebidos pelo Palácio dos Bandeirantes se suspenderem a greve. O grupo com mais de dois mil policiais civis seguia em passeata até o Palácio com o uso de dois carros de som, por volta das 16h. Um grupo de grevistas forçou a passagem por uma primeira barreira formada pelos policiais militares. Houve confronto. Com empurrões e troca de socos, policiais civis romperam o cordão de isolamento feito por PMs. Para conter o grupo que seguia em caminhada, policiais militares que estavam em uma segunda barreira lançaram bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo e deram tiros de balas de borracha. A cavalaria da PM foi usada. O grupo de manifestantes recuou.

Tiros e veículos depredados

Carros das forças especiais da PM foram estacionados em um cruzamento para formar uma barreira contra o avanço da passeata. Veículos do Garra e GOE passaram para a frente do carro de som dos manifestantes, à frente da multidão que subia a rua em direção ao cordão de isolamento. Os grevistas furaram a primeira barreira e seguiram em direção ao Palácio.

Na tentativa de contê-los, a tropa de choque lançou bombas de efeito moral e gás de pimenta. Os civis recuaram novamente, mas os carros avançaram para tentar intimidar os PMs e assim chegaram até a fila da tropa de choque. Na reação, a PM começou a atirar mais granadas de gás lacrimogêneo. Os policiais civis, que haviam chegado em aproximadamente 40 veículos, recuaram outra vez.

- Um policial civil descarregou uma arma automática na direção da gente - disse um PM que não se identificou.

Carros policiais foram depredados. Vários deles tiveram os vidros arrebentados. Entre veículos da Polícia Militar e civil, pelo menos dez ficaram danificados, vários com pneus furados. Todos os helicópteros da PM que sobrevoavam a região eram vaiados e xingados pelos policiais civis.

O governo de São Paulo disse, em nota: "O confronto começou no momento em que o comando grevista aceitou proposta do governo de enviar um representante ao local onde estava concentrada a manifestação para receber um documento com a posição dos manifestantes". Na nota, o governo do estado informou que as vias públicas situadas ao redor do Palácio dos Bandeirantes são consideradas área de segurança. "Por esse motivo, todas as manifestações populares programadas para esses locais são obrigatoriamente desviadas para áreas próximas, que não se encontram na zona delimitada pela resolução, que abrange as avenidas Morumbi e Giovanni Gronchi e as ruas Combatentes do Gueto, Rugero Fazzano e Padre Lebret".

O presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia de São Paulo, João Batista Rebouças Neto, reagiu às críticas de envolvimento político e disse que a medida é necessária.

- É preciso entender que, como a polícia defende a população, foi necessário chegar a esse ponto para melhorar as condições de trabalho - argumentou.

O presidente do sindicato afirmou ainda que os policiais civis não dispararam nenhum tiro, apesar de carregarem armas. E que o sindicato tenta, desde o mês de fevereiro, entrar em contato com o governador José Serra. Segundo Rebouças, Serra não quer recebê-los e justifica que não tem dinheiro. Os policiais civis pedem 15% de reajuste salarial em 2008 e 12% para 2009 e 2010.

*Do Diário de S. Paulo