Título: Ibama fecha serrarias em lotes do Incra
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 17/10/2008, O País, p. 12

Durante operação contra desmatamento na Amazônia, também foram destruídos fornos clandestinos em assentamento

Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. Em mais um capítulo da ofensiva contra o desmatamento da Amazônia em assentamentos rurais, o Ibama anunciou ontem a destruição de 19 fornos clandestinos e o fechamento de três serrarias que funcionavam ilegalmente em lotes do Incra no município de Novo Repartimento, no Pará. Durante a operação no assentamento Rio Gelado foram apreendidos 300 metros cúbicos de madeira. Os fiscais multaram seis agricultores por crime ambiental, num total de R$180 mil. No fim de setembro, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, provocou polêmica ao identificar seis lotes do Incra como os maiores desmatadores da floresta.

Desde terça-feira, os fiscais já destruíram 280 fornos que fabricavam carvão ilegal em terras públicas e privadas de Novo Repartimento. Os fornos localizados no assentamento equivalem a 6,7% desse número.

No assentamento Rio Gelado, também foi flagrada a derrubada ilegal de castanheiras, espécie que não pode ser usada pela indústria madeireira. Segundo o superintendente do Ibama no Pará, Aníbal Picanço, os assentamentos do Incra são responsáveis por cerca de 20% do desmatamento da floresta no estado:

- Temos encontrado muitas irregularidades nos assentamentos. Os agricultores não respeitam a reserva legal e entram na mata para derrubar madeira nativa.

Das três serrarias fechadas no assentamento, duas não tinham qualquer documentação para funcionar. A terceira estava com as licenças vencidas e sob embargo do Ibama.

Sigilo para evitar vazamento de informação

Ainda de acordo com o superintendente, não foi aplicada qualquer multa contra o Incra. Picanço afirmou que o órgão não foi avisado antecipadamente para evitar um possível vazamento de informações sobre a operação.

O trabalho dos fiscais do Ibama foi divulgado no fim da tarde de ontem pelo ministério, pouco depois de Minc conceder entrevista coletiva sem fazer qualquer menção ao tema. O comunicado da pasta identificou o assentamento Rio Gelado, que tem área de 260 mil hectares, como o maior do país. Segundo o Incra, o título pertence ao assentamento Rio Juma, no Amazonas, com área de 689 mil hectares.

No fim de setembro, Minc irritou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, ao afirmar que seis assentamentos do Incra lideravam a lista dos cem maiores desmatadores da Amazônia. Cassel protestou publicamente e disse que a relação estava errada. O Incra foi procurado pelo GLOBO ontem, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

Em nota, o Incra informou ter destruído, nos últimos dois meses, mais de 200 fornos clandestinos na região. Segundo a nota, todos pertenciam a pessoas que não integram a lista oficial de assentados da reforma agrária.