Título: Obama vai ser melhor que Bush, diz Lula
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2009, Mundo, p. 25

Presidente espera uma relação ¿infinitamente¿ superior com o democrata. Segundo Celso Amorim, o brasileiro mostrará em Washington a ¿ótica certa¿ pela qual a Casa Branca deve enxergar a região

O chanceler brasileiro disse que a Venezuela e o embargo a Cuba entrarão na conversa com Obama Se depender do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu primeiro encontro com Barack Obama, que será realizado no sábado, marcará o início de uma relação ¿infinitamente melhor¿ do que a mantida com seu antecessor, George W. Bush. ¿As políticas de Bush em relação ao Brasil foram dignas. Mas eu acredito que elas podem ser infinitamente melhores com Obama¿, revelou o presidente brasileiro para o jornal americano The Wall Street Journal. A grande expectativa foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que destacou a ¿afinidade indiscutível de pensamentos¿ entre os dois presidentes. Segundo ele, este é um ¿momento especial para aprofundar as relações com os Estados Unidos¿, mas sem perder de vista a ¿prioridade de integração sul-americana¿.

Os temas regionais tomarão boa parte do encontro entre os dois chefes de Estado. Lula chegará a Washington disposto a apresentar a Obama a ¿ótica certa¿ para enxergar a América Latina hoje, após as mudanças que ¿decorreram de anseios por reformas¿ e que se concretizaram de maneiras diversas em cada país. ¿Não é tanto a questão de fazer com que o presidente Obama olhe para cá, até porque eu creio que ele fará isso, mas é, com humildade, ajudar que olhe para cá com a ótica certa¿, afirmou o chanceler brasileiro.

Dentro desse pacote, entrarão Venezuela ¿ como já havia anunciado o próprio presidente Hugo Chávez ¿ e Cuba, pela qual Lula deve interceder para o fim do embargo. De acordo com Amorim, o Brasil não tem intenção de ser um ¿negociador¿ em nome de outros países, mas deve levar a Obama a necessidade do diálogo, da compreensão e de ¿evitar ficar elaborando sobre problemas do passado o tempo todo¿. ¿É preciso compreender que a Venezuela realizou vários referendos, todos eles com o monitoramento internacional. (¿) É preciso respeitar a democracia naquele país. E eu creio que o presidente Obama estará aberto a isso, pois ele tem demonstrado uma visão aberta e favorável ao diálogo¿, destacou Amorim.

Já Cuba é colocada pelo governo brasileiro como um tema do qual é ¿inevitável¿ tratar. ¿Cuba é muito simbólica na América Latina para a maneira como os Estados Unidos olham para a região e respeita a diversidade. Nós não escolhemos o regime político dos outros países, nós podemos ter preferências, mas esse respeito à diversidade é algo muito importante¿, destacou o chanceler brasileiro. Menos diplomático, Lula foi mais enfático ao defender o fim do embargo à ilha na entrevista publicada no The Wall Street Journal. ¿Não há razões humanas, sociais ou políticas para manter o embargo a Cuba¿, disse. ¿Temos de olhar para o futuro, e não podemos fazer política no século 21 em cima do que ocorreu no século 20¿, completou.

Crise Entre os temas previstos na agenda oficial divulgada pela Casa Branca, estão a crise financeira mundial, a cúpula do G-20 em Londres, a parceria bilateral e cooperação dos dois governos com outros países. Um dos assuntos que mais interessa a Obama ¿ o maior uso de fontes de energia renovável ¿ é uma das esperanças de maior aproximação do governo brasileiro. ¿Uma das coisas que Lula poderá dizer (a Obama) é que, como os EUA têm uma preocupação de diversificar a matriz energética e de contribuir para a melhoria na questão da mudança do clima, nós temos uma boa receita para isso: eliminar as tarifas para o etanol¿, sugeriu Amorim.

Segundo o ministro, é natural ainda que, dentro do contexto do combate à crise financeira, o tema do protecionismo seja levantado, assim como a conclusão da Rodada de Doha. Em 25 de fevereiro, no encontro de Amorim com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, a cláusula Buy American, aprovada com o pacote de estímulo à economia e que prevê a preferência aos produtos americanos nas compras governamentais, já havia sido questionada.

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Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores