Título: Lula se emociona ao encontrar Mandela
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 17/10/2008, O País, p. 12
Na África, presidente reclama da demora para concretizar ações de governo
Luiza Damé
MAPUTO (Moçambique). Entre um compromisso e outro de sua extensa agenda da visita oficial a Moçambique, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um encontro ontem, pedido por ele, com o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela. Lula pretendia retribuir a atenção dada por Mandela, já presidente da África do Sul, ao então candidato do PT à Presidência do Brasil, em 1994. Após a reunião de quase meia hora na casa de Mandela, Lula disse ter ficado emocionado.
- Eu confesso que tem figuras que fizeram gestos comigo que marcaram minha vida. Mandela é uma. Fidel (Castro) é outra - afirmou Lula.
A pedido de Lula, Mandela fez um breve pronunciamento, na porta de sua casa:
- Estou muito honrado em receber o presidente. Na minha idade, eu estaria cavando a minha própria sepultura. Na minha idade, não me reúno mais com presidente. É uma grande honra poder recebê-lo.
Cobrança pública ao ministro Celso Amorim
No seu primeiro compromisso oficial ontem em Moçambique - uma reunião ampliada no gabinete do presidente Armando Ermílio Guezuba -, Lula manifestou sua insatisfação ao encaminhamento que a diplomacia brasileira vem dando às políticas de cooperação do Brasil com os países africanos. Reclamou da demora na execução de programas acertados anteriormente e cobrou agilidade do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, na implantação da fábrica de remédios para tratamento da Aids.
- Eu digo isso em todos os lugares, e o Celso fica se remoendo de raiva. Eu sinto que as coisas que nós tratamos e aprovamos demoram muito para acontecer. Entre o nosso sonho, o nosso desejo, a nossa vontade, a nossa decisão e a coisa acontecer leva mais tempo do que a gente precisa. Essa fábrica de retrovirais... Eu vim aqui em 2003, fizemos um ato, já faz cinco anos e agora é que vai acontecer - reclamou Lula durante a reunião, quando foram assinados atos de cooperação nas áreas de cultura, agricultura, esportes, nutrição e comunicação.
O chanceler brasileiro reagiu à cobrança pública:
- Desculpa, presidente, sem querer defender, porque não somos nós (o Itamaraty) que fazemos o estudo. Foi feito um estudo de viabilidade sério e está realmente montado para servir aos interesse de Moçambique e das regiões próximas.
Lula não se deu por satisfeito e insistiu:
- É que o mandato do presidente tem cinco anos (na verdade, quatro). No tempo que você tinha os faraós, o imperador, as coisas aconteciam. Essa é uma inquietação que eu tenho. Não estranhe não, porque eu me queixo em todo o lugar.
E ainda ganhou o apoio do presidente Guezuba:
- Eu concordo. A impaciência é própria daqueles que estão preocupados com os resultados concretos.
Mais tarde, Lula voltou a se queixar das dificuldades para implementar ações de governo:
- No Brasil, um presidente da República que quiser fazer uma hidrelétrica precisa de dois mandatos. Num você toma a decisão, vai atrás do licenciamento e da licitação. Depois, o empresário que perde entra com uma ação. Aí, mais um ano. Depois, o Ministério Público acha outra ação. E, quando está tudo resolvido, o tribunal de contas entra com outra ação. É mais um ano. Acabou o mandato e você não fez nada.