Título: Sem carro blindado e sem escolta
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Fonte: O Globo, 17/10/2008, Rio, p. 15

Proteção teria sido retirada da vítima há três semanas, mas secretário nega

A execução do tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço aconteceu três semanas após o diretor de Bangu 3-B ter a escolta e o veículo blindado retirados pela Secretaria de Administração Penitenciária, segundo três fontes ouvidas pelo GLOBO. O aparato de segurança para diretores de presídios de segurança máxima é previsto numa resolução conjunta da Seap com a Secretaria de Segurança Pública, de número 007, de 6 de agosto de 2003, assinada pelo então secretário Astério Pereira. O atual secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro, disse, no entanto, que Lourenço tinha a escolta de um policial que ontem teria sido dispensado pelo próprio diretor:

¿ Qualquer pessoa que exerce um tipo de atividade como a que nós exercemos tem consciência dos riscos a que está exposta. Ele quebrou a regra principal ao dispensar o segurança.

Ele disse ainda que Lourenço chegou a usar um carro blindado quando assumiu a unidade, mas que não havia pedido a manutenção do veículo. A frota de veículos blindados que atendia aos diretores de presídios era alugada e, com o fim do contrato, foi sendo substituída por carros sem proteção, como o Pálio usado ontem por Lourenço. A perda do aparato especial de segurança surpreendeu Astério. Segundo ele, o diretor de Bangu 3-B era recordista no recebimento de ameaças de morte.

Diretores tinham que usar colete à prova de balas

Segundo a resolução assinada por Astério e pelo então secretário de Segurança, Anthony Garotinho, os diretores das penitenciárias Laércio Pellegrino (Bangu 1), Alfredo Tranjan (Bangu 2-I), Dr. Serrano Neves (Bangu 3), Jonas Lopes Carvalho (Bangu 4), além dos coordenadores das unidades prisionais do Complexo da Frei Caneca ¿ que à época ainda funcionava no Centro ¿, de Bangu, Niterói e interior, deveriam usar coletes à prova de balas. O documento ainda prevê a segurança de, no mínimo, dois policiais militares, a fim de garantir a ¿integridade física no exercício de suas atividades profissionais¿.

O secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho, negou ter conhecimento de que o diretor de Bangu 3-B estivesse sendo ameaçado de morte. Paulo Bahia, ex-secretário de Direitos Humanos e Cidadania, classificou de irresponsável a retirada do aparato de segurança:

¿ O Lourenço era um homem competente, sério, incorruptível e rigoroso no trato da lei, mas ao mesmo tempo preocupado em garantir o direito dos presos. A morte dele é um golpe para quem combate a criminalidade no Rio.

Agentes penitenciários que não quiseram se identificar, temendo represálias, disseram que a ordem para retirar a escolta e o carro blindado do diretor do presídio Bangu 3-B teria partido do próprio secretário César Rubens Monteiro de Carvalho e do subsecretário-geral, Romer Silveira e Silva. Para a escolta, a secretaria iria determinar que agentes do Grupamento de Intervenções Táticas (GIT) fizessem o trabalho. Tal promessa, no entanto, não teria sido cumprida a tempo. A escolta e o carro blindado foram retirados dos diretores há cerca de três semanas.

No início da noite de ontem, o governador Sérgio Cabral se reuniu com o secretário de Administração Penitenciária e o de Segurança, José Mariano Beltrame, no Palácio Guanabara. Este último disse que Cesar Rubens contou que o diretor de Bangu 3-B teria dispensado a escolta e que a polícia trabalha com duas linhas de investigação. Meia hora depois de Beltrame, o tenente-coronel Cesar deixou o gabinete do governador sem dar entrevista, saindo num carro blindado e escoltado por seis PMs em duas Blazers.

oglobo.com.br/rio