Título: Governo age para dar crédito a empresas
Autor: D"Ercole, Ronaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Economia, p. 25

BC poderá obrigar que empréstimo em moeda estrangeira a bancos se destine a exportadores

Patrícia Duarte e Geralda Doca

BRASÍLIA. A pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento para que o Banco Central (BC) cobre das instituições financeiras a reabertura do crédito começou a surtir efeito ontem. Após reunião entre o presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reuniu extraordinariamente pela segunda vez esta semana e autorizou que o BC obrigue que os empréstimos em moeda estrangeira que conceder aos bancos sejam destinados aos exportadores. O BC poderá determinar que os recursos sejam, integralmente ou em parte, usados especificamente para operações de comércio exterior. Na quarta-feira, em viagem à Índia, Lula ameaçou retomar os compulsórios liberados caso os bancos não os alocassem para linhas de crédito. O BC tomou diversas medidas recentemente para liberar compulsórios que superam R$110 bilhões. Mas os bancos estão preferindo comprar títulos públicos, o que deixa o mercado com cada vez menos liquidez.

Como o mercado internacional está fechado para captações, faltam recursos para o comércio exterior. "Nosso principal problema é a falta de liquidez, principalmente para financiar as exportações. As medidas anunciadas visam a facilitar o acesso ao crédito pelos exportadores e pelas empresas que possam estar tendo problemas de capital de giro", disse Mantega em nota.

Fontes do governo afirmam que os grandes bancos estão sendo covardes ao segurar os empréstimos. Por isso, reforçou-se a orientação para que os bancos oficiais saiam na frente. A Caixa anunciou ontem a compra de quatro carteiras de crédito, no valor de R$1,1 bilhão.

- Foi só o Banco do Brasil e a Caixa anunciarem compra de carteira de bancos menores que a concorrência foi atrás - disse um técnico.

Reservas cambiais ainda não são usadas para financiar exportações

O CMN também permitiu ontem que debêntures de empresas não-financeiras sejam dadas como garantia pelos bancos que buscarem a linha de redesconto do BC, em vez de apenas carteiras de crédito. Mas o BC só aceitará papéis cujos emissores tenham excelente classificação de risco. Pela manhã, o BC anunciara que as instituições de grande porte poderão descontar a compra de Certificados de Depósitos Interbancários (CDI), títulos e valores mobiliários de renda fixa, entre outros, que estejam nas carteiras de bancos pequenos e médios. Mas o volume permanece em R$6 bilhões.

Mas, duas semanas depois de anunciar que usaria as reservas cambiais para financiar exportações, o BC ainda não implementou a medida, o que preocupa exportadores. Técnicos da área econômica admitem que, se a situação não for resolvida logo, os recursos para Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC) vão secar, paralisando o setor exportador. A demanda por ACC, até dezembro, é de US$2,5 bilhões. Segundo um integrante do governo, a participação do ACC nas exportações recuou de 30% em meados para 18% no último dia 10. O governo tem informações de que o BB é praticamente o único a oferecer esse tipo de empréstimo às empresas.

COLABOROU Eliane Oliveira