Título: Lula diz acompanhar crise com lupa e defende emergentes como a saída
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Economia, p. 26

"Le Monde" critica otimismo de fachada e afirma que Brasil será afetado

Luiza Damé*

MAPUTO e PARIS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em discurso na capital de Moçambique, que está acompanhando com lupa os desdobramentos da crise financeira - "maior agiotagem financeira que o mundo conheceu" - e tomando as medidas necessárias para que o Brasil não seja "pego de calças curtas". Em encontro com empresários brasileiros e moçambicanos, afirmou que as economias emergentes podem ser a resposta positiva à crise que os países ricos não conseguem conter neste momento.

- Acho que o momento de crise é um momento de apreensão. Estamos olhando com lupa. Nunca falei tanto com o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central como nos últimos 30 dias, porque não quero que o Brasil seja pego de calças curtas, porque não quero jogar fora o patrimônio de responsabilidade que acumulamos nos últimos anos.

Lula fez uma defesa enfática da política externa brasileira. Para ele, o cenário internacional mostra que a diversificação de parceiros comerciais e de investimentos é fundamental para reduzir os impactos da crise nos países industrializados. Ele afirmou ainda que, quando começou a viajar pela América, África e Ásia, foi taxado de louco.

- Neste momento em que o mundo rico parece que vai entrar em recessão absoluta, é preciso que o mundo emergente seja a resposta positiva que os ricos não estão conseguindo ser. Imaginem se não fossem os emergentes crescendo. É a periferia da economia mundial que está salvando o centro nervoso do capitalismo.

Lula: privatistas querem socializar os prejuízos

O presidente afirmou que o Brasil está preparado para enfrentar a crise, mas não complacente. Ele voltou a dizer que não haverá cortes nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), nem nos investimentos da Petrobras. Lula criticou as teorias de que o Estado deveria ser menor, porque o mercado regularia as relações, argumentando que agora o sistema financeiro está pedindo ajuda e os países começam a comprar ações de bancos, num processo de estatização:

- Fomos castigados por dizermos que éramos socialistas e agora estamos vendo os privatistas dos lucros querendo socializar prejuízos do sistema financeiro com os países pobres.

Para o jornal francês "Le Monde", apesar do otimismo de Lula, o Brasil não ficará imune à atual crise. Em reportagem publicada ontem, o jornal lembra que a Bolsa de Valores de São Paulo já perdeu 50% de seu valor desde maio, quando atingiu sua máxima.

O "Le Monde" lembra recentes declarações de Lula, de que os brasileiros terão um ótimo Natal e que o Brasil está vacinado contra a crise. "Apesar desse otimismo de fachada, o Brasil não sairá incólume da crise financeira", diz. Outros problemas apontados são a queda dos preços de commodities, a saída de investidores estrangeiros e a desvalorização do real frente ao dólar. Mas o jornal diz que o Brasil continua blindado contra a crise, devido aos bons fundamentos de sua economia.

(*) Com agências internacionais