Título: Variação do câmbio já afeta inflação
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Economia, p. 27

IGP-10 avança 0,78% em outubro, após deflação de 0,42% em setembro

Fabiana Ribeiro

RIO e BRASÍLIA. Os efeitos da alta do dólar começam a aparecer nos índices de inflação. No Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), a depreciação do câmbio afetou o preço de alguns itens no atacado, que corresponde a 60% da taxa. Com isso, o IGP-10 de outubro variou 0,78%, ante deflação de 0,42% em setembro. Ainda assim, o freio na queda do preços dos produtos agrícolas foi o que mais contribuiu para a subida da inflação divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). No ano, o IGP-10 acumula alta de 9,45% e, em 12 meses, de 11,97%.

- Os efeitos do câmbio já foram vistos nesse IGP-10. Soja e minério tiveram forte alta mensal, mesmo com queda nos seus preços em dólares - disse João Philippe de Orleans e Bragança, economista da Paraty Investimentos.

Os preços agrícolas no atacado caíram 4,30% em setembro. Este mês, subiram 0,54%. Trata-se, segundo analistas, de efeitos sazonais de safra, entressafra e demanda. Ficaram mais caros no atacado a soja (2,49%), o feijão (13,51%) e a mandioca (29,46%) - altas que pesaram no Índice de Preços por Atacado (IPA), que subiu 0,98% em outubro, após deflação de 0,75% em setembro.

- O comportamento dos agrícolas mostra que os alimentos vão deixar de atuar como vetor de baixa na inflação e pressionar ainda mais o índice - previu o economista da Paraty.

João Gomes, economista da Fecomércio-RJ, lembrou que o feijão, em grande parte importado do Chile e da Argentina, foi exposto à pressão cambial e se destacou como componente de alta. Mas ele ressalta que também houve reduções de preços no atacado, como no leite e no cimento.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) variou 0,10% em outubro, após queda de 0,03% em setembro. Os alimentos continuam ficando mais baratos, mas em menor ritmo, passando de -1,06% para -0,44%.

BC pode manter juros por causa de desaceleração

A cúpula do Banco Central (BC) aposta que a cotação do dólar, assim que os mercados se estabilizarem, deverá se manter na faixa dos R$2. Com isso, espera-se um repique da inflação nos próximos meses. Interlocutores que conversaram com integrantes da autoridade monetária esta semana, porém, saíram com a impressão de que o BC estaria disposto a manter os juros inalterados na reunião do fim do mês, ao reconhecerem que, por outro lado, a economia brasileira vai desacelerar.

O BC avalia ainda que a manutenção do enxugamento do crédito deve-se ao fato de os bancos estarem usando o dinheiro para emprestar às empresas das quais são sócios e que tiveram prejuízos cambiais.

COLABOROU Adriana Vasconcelos

oglobo.com.br/economia