Título: BC consegue conter alta do dólar. Bovespa oscila
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Economia, p. 27

Bolsa chega a cair 8% durante o dia, mas fecha em baixa de 1,06%. Moeda americana recua 0,14%, para R$2,163

Felipe Frisch

O dólar e os mercados de ações mundiais tiveram mais um dia de extrema volatilidade ontem. A moeda americana, depois de chegar a subir 4,43% no Brasil e bater R$2,262 no fim da manhã, cedeu à pressão do Banco Central (BC), que fez diversas operações de venda de dólares ao longo do dia. Com isso, a divisa fechou em queda de 0,14%, a R$2,163. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) alcançou alta de 1,52% nos primeiros minutos do dia, mas logo cedeu aos indicadores pessimistas da economia americana, chegando a cair 8,36% no início da tarde.

No fim do dia, o Índice Bovespa (Ibovespa) ameaçou voltar a subir, acompanhando a forte recuperação da Bolsa de Nova York, mas ainda fechou em queda de 1,06%, aos 36.441 pontos. Até porque, segundo analistas, um dos motivos para a recuperação das ações nos Estados Unidos foi a queda dos preços do barril do petróleo, que reduz os custos para as empresas. Com isso, o índice Dow Jones encerrou o dia em alta forte, de 4,68%, e o eletrônico Nasdaq, de 5,49%.

Ação da Petrobras volta a cotação de junho de 2007

No Brasil, o que acabou pesando mais foi a participação das ações da Petrobras no Ibovespa, de cerca de 18%. E ontem, com a queda mundial do preço do seu principal produto, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da estatal caíram 8,67%, para R$26,75, menor cotação desde junho do ano passado. Já as preferenciais (PN, sem voto) se desvalorizaram 7,50%, para R$22,20. As duas tiveram as maiores perdas entre os papéis do Ibovespa.

As da Vale caíram 2,49%, para R$25, no caso das ONs, e 2,13%, para R$23,00, no caso das PNAs, voltando às cotações de outubro de 2006. Desde a máxima dos papéis, em maio, as quedas das ações das duas principais empresas do Ibovespa já são de cerca de 60%. Por causa disso, o Conselho de Administração da Vale aprovou ontem o programa de recompra de mais de 3 milhões de ações, a partir do dia 27.

A mineradora divulgou no fim do dia o seu programa de investimentos de US$14,2 bilhões para 2009. A empresa anunciou ainda o pagamento de R$2,694 bilhões (R$0,65 por ação) em participação nos lucros, a partir do dia 31, para quem tinha ações até ontem.

O dia começou otimista, com rumores de que poderiam acontecer novos cortes de juros coletivos promovidos pelos bancos centrais de diversos países. Em seguida, os operadores enfrentaram uma enxurrada de indicadores dos Estados Unidos, alguns mostrando que a recessão pode estar mesmo batendo à porta da economia americana. Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora, as chances de recessão na Europa, em países como Itália, Portugal e Espanha, são maiores que nos EUA.

Pela manhã, saiu a inflação ao consumidor (CPI) em setembro, menor do que o esperado: zero. Logo em seguida, vieram os dados da produção industrial no mesmo mês, em queda de 2,8%, contra uma expectativa de redução de 0,8% e a maior queda mensal em 34 anos. E, depois, a utilização da capacidade instalada e a atividade industrial na Filadélfia, já em outubro, ambos piores do que as expectativas. No entanto, mesmo com a redução das expectativas de cortes-surpresa de juros, com os maus indicadores aumentaram as chances de uma nova redução na reunião de 28 e 29 de outubro do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), avalia Rafael Moysés, gestor da corretora Umuarama.

BC vendeu US$3,2 bilhões no mercado de câmbio

Para conter o pessimismo ao menos no câmbio, o BC fez diversas intervenções, injetando cerca de US$3,2 bilhões no mercado. Logo pela manhã, a autoridade monetária vendeu US$1 bilhão com compromisso de recompra até abril de 2009. Em seguida, sem refrear a alta da moeda, que passava de R$2,26, o BC vendeu US$336 milhões à vista. No início da tarde, a instituição vendeu mais US$1,814 bilhão em swaps cambiais (de um total de cerca de US$2,5 bilhões que ofertou), contratos em que paga a variação do dólar e recebe juros em troca.

Desde o início da semana passada, o BC já tirou das suas reservas US$5,221 bilhões, diferença dos US$208,386 bilhões do dia 6 para os US$203,165 bilhões de quarta-feira, informados ontem pelo BC.

oglobo.com.br/economia