Título: Resgate que agradaria a Pequim
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Economia, p. 31

Somos todos chineses agora. Temos uma economia nominalmente capitalista, mas não acreditamos no livre mercado em momentos de crise e nos voltamos para o governo em busca de proteção e estabilidade.

O novo intervencionismo não é tão socialista quanto é confucionista ¿ a crença que uma parceria público-privada nos tirará desta confusão. Se há consolo, os chineses estão se tornando mais como nós, mesmo que estejamos nos tornando mais como eles.

Uma prévia chinesa da recente recapitalização dos bancos que ocorreu na quebra da bolsa de Hong Kong em agosto de 1998, quando o governo chinês gastou US$15,1 bilhões para adquirir 7,3% das companhias do índice Hang Seng.

Levarão muitos meses até que seja possível avaliar a nova ordem. Uma fonte de instabilidade que precisa ser tratada é o desequilíbrio estrutural no comércio global, conhecido como o Breton Woods II. Chineses e economias asiáticas teriam grandes saldos comerciais e financiariam os déficits americanos ao comprar papéis do Tesouro, nos emprestando dinheiro para financiar o consumo. Mas este regime precisa se tornar algo mais estável. Será preciso mais consumo da China e menos dos Estados Unidos.

A realidade é que ninguém gosta de viver sob o risco do mercado. Queremos o dinamismo e a flexibilidade do capitalismo, mas também proteção. Mas não vamos ouvir mais de auto-suficiência nem dos beneficiados pelo resgate. Somos todos chineses agora, para o bem ou o mal, e estamos todos comendo da mesma tigela.

DAVID IGNATIUS é colunista do ¿Washington Post¿