Título: OIT alerta que crise vai agravar desigualdades
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Economia, p. 31

Distância entre ricos e pobres cresceu de 1990 a 2005. EUA, China, Índia e Brasil são países onde diferença é grande

Geralda Doca

BRASÍLIA. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertou ontem que a crise financeira global vai agravar ainda mais as desigualdades de renda no mundo e advertiu os governos sobre a necessidade de beneficiar também os trabalhadores e não apenas socorrer bancos. De acordo com relatório internacional com informações de 73 países, o crescimento da economia mundial nos últimos anos não se traduziu em ganhos para famílias pobres e de classe média, beneficiando mais os ricos - o que fez com que o problema da desigualdade crescesse em dois terços das nações pesquisadas. O Brasil foi exceção.

- Da mesma forma que os Estados estão se mobilizando para salvar o sistema financeiro, eles também precisam se preocupar em proteger os trabalhadores - diz a diretora do escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo.

O relatório da OIT aponta que, entre 1990 e 2005, a disparidade entre os 10% de assalariados com renda mais alta e os 10% com renda mais baixa aumentou. A desigualdade de renda cresceu tanto dentro dos países como entre nações.

Segundo o documento, o crescimento do emprego nos últimos anos não foi suficiente para reduzir a desigualdade no mundo, porque a participação dos salários na renda nacional diminuiu em 51 dos 73 países analisados. A maior redução foi registrada na América Latina e no Caribe, seguida de Ásia e economias desenvolvidas.

Brasil, China, Índia e Estados Unidos são alguns dos países onde a diferença entre os salários dos mais ricos e o dos mais pobres é maior. Nos EUA, por exemplo, os diretores executivos mais bem pagos recebem mais de US$10 milhões por ano, 183 vezes mais do que o trabalhador americano médio.

O relatório diz que, diante da estagnação dos salários, as famílias se endividaram para arcar com financiamentos habitacionais e as necessidades de consumo, o que pôs em evidência o limite do modelo atual de crescimento.

OIT elogia Bolsa Família e salário mínimo no Brasil

No entanto, a OIT ressalta que a distância entre pobres e ricos tem sido reduzida no Brasil. Entre 1997 e 2007, o índice de Gini no país saiu de 0,58 para 0,52 - quanto mais próximo de zero melhor o indicador. A criação de mecanismos de proteção social, segundo a OIT, teve participação decisiva nesse processo. Entre eles, o Bolsa Família, os ganhos reais do salário mínimo e as aposentadorias rurais. Na avaliação do organismo, o mercado interno brasileiro aquecido ajudará o país a enfrentar a crise.

A OIT destaca ainda que crises financeiras têm ocorrido com mais freqüência. Turbulências resultantes de quebra de bancos foram dez vezes mais comuns na década de 1990 do que na década de 1970. Para minimizar seus efeitos, Laís defende a criação ou o reforço de programas de proteção social como seguro-desemprego. Outra medida seria incentivar negociações coletivas.