Título: Em busca do elo perdido
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 17/10/2008, Ciência, p. 38

Paleontólogo francês procura ancestral comum de homem e macaco

Roberta Jansen

Há sete anos, o paleontólogo francês Michel Brunet, da Universidade de Poitiers, revolucionou as teorias mais aceitas sobre as origens do homem ao apresentar um fóssil de hominídeo de 7 milhões de anos e revelar que os nossos primeiros ancestrais seriam mais antigos do que se imaginava. Agora, ele quer ir além: está trabalhando na Líbia, no Egito e no Chade em busca do ancestral comum do homem e do macaco, que teria vivido há cerca de 8 milhões de anos nessa região.

A caminho do Rio, a convite do Serviço de Cooperação Científica e Tecnológica da Embaixada da França, Brunet participa de eventos relacionados à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que começa na próxima segunda-feira.

Em entrevista por telefone ao GLOBO, ele falou sobre suas novas buscas e rechaçou as controvérsias que rondam o fóssil de Toumai ¿ como foi chamado o seu achado no deserto do Chade ¿, que, para alguns especialistas, poderia não ser de um hominídeo, mas sim de um ancestral de macaco. Segundo ele, após uma análise de sete anos, não há margem para dúvidas.

¿ A conclusão é muito clara. Trata-se do mais antigo fóssil de hominídeo conhecido, tem 7 milhões de anos ¿ afirmou, categórico. ¿ Toumai é, definitivamente, um hominídeo, mesmo que você leia em algumas revistas científicas que ele é um gorila ou um macaco. Isso é definitivamente errado e ninguém vai encontrar essas afirmações em revistas científicas sérias.

Outros fósseis foram achados no local

Segundo Brunet, os estudos da base do crânio de Toumai deixam claro que se tratava de um bípede.

¿ É algo diferente do australopiteco e é também diferente do (gênero) Homo. Toumai é um terceiro ramo, mais antigo ¿ sustentou. ¿ Toumai é mais parecido com um humano, um pré-humano. É completamente diferente de um macaco. A base de seu crânio é típica de um bípede pré-humano, bem parecida com a de um australopiteco. Além disso, ele tem uma base nasal curta, bem diferente da dos macacos.

Os estudos mostram, como frisa Brunet, que o Homem de Toumai não é um ancestral direto dos outros dois. São ramos diferentes, ainda que aparentados.

A história da descoberta e dos estudos subseqüentes é contada no documentário ¿Toumai: o novo antepassado¿, que será apresentado na próxima segunda-feira na Casa da Ciência da UFRJ, onde Brunet fará uma palestra.

O paleontólogo conta que as escavações no Deserto do Chade, na mesma região em que o fóssil de Toumai foi encontrado, prosseguem. Ossos de outros indivíduos da mesma espécie e datados para o mesmo período já foram achados e confirmariam as características humanas.

¿ Estamos escavando em três sítios e já encontramos 12 indivíduos ¿ contou. ¿ Não achamos o esqueleto completo, mas ossos que pertencem a 12 indivíduos. Parece que encontramos grupos pré-humanos.

Agora, Brunet se volta para outras regiões desérticas da África em busca de fósseis ainda mais antigos, que revelariam o tão buscado ancestral comum do homem e dos macacos.

¿ Estou trabalhando na Líbia, no Egito e no Chade tentando achar algo ainda mais antigo que Toumai, um fóssil que tenha entre 7 e 9 milhões de anos ¿ contou o paleontólogo. ¿ Acho que 8 milhões seria uma boa aposta porque acredito que Toumai esteja muito próximo desse ancestral comum.