Título: Dólar bate R$2,48. BC age, e moeda cai a R$2,28
Autor: Frisch, Felipe; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 09/10/2008, Economia, p. 27

Autoridade usa artilharia de US$3 bi. Foram 3 leilões à vista, o que não ocorria há 5 anos, e um no mercado futuro

Felipe Frisch e Henrique Gomes Batista

RIO e BRASÍLIA. Depois de subir até 7,31% durante o dia e bater R$2,48, o dólar comercial encerrou ontem a R$2,28, em queda de 1,34%, após o Banco Central (BC) usar toda a sua munição disponível. Foram três leilões de venda à vista da moeda americana - usando recursos das reservas internacionais do país, artilharia de que a autoridade monetária não lançava mão desde 2003 - e mais um de contratos de swap. Neste, o BC oferece, a quem aderir, a variação do dólar e recebe, em troca, uma taxa de juros acertada na operação. Juntas, as operações colocaram quase US$3 bilhões no mercado.

A estimativa de operadores do mercado é que os leilões de moeda tenham chegado a US$1,6 bilhão. O valor exato não é informado pelo BC e só é conhecido no dia seguinte, com a divulgação da posição das reservas internacionais. Os leilões de dólar foram feitos pela manhã, o primeiro às 10h30m, com a moeda oferecida a R$2,4485, e, nos seguintes, por R$2,37 e R$2,356, respectivamente.

Já no leilão de swaps, à tarde, foram ofertados 41 mil contratos, mas foram vendidos apenas 27 mil. Para alguns analistas, a baixa adesão confirma a tese de que boa parte da alta da moeda americana não se deve à procura pela divisa, mas sim à forte especulação com o câmbio, sobretudo no mercado futuro.

Fluxo cambial está positivo em US$2,8 bi em setembro

Para o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, está acontecendo um "jogo extremamente perigoso" entre os que apostam na alta e os que apostavam na queda do dólar na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Ele avalia que outras empresas, além de Sadia e Aracruz, podem estar amargando perdas por terem apostado na queda do dólar, em vez de usarem o mercado futuro apenas para se proteger da variação cambial. Com isso, nos negócios após o horário regular, no chamado after market, a pressão ontem já era de alta da moeda americana, ele lembra.

- Quem está apostando na alta vai forçando e quem aposta na queda se sente acuado - diz Nehme.

Segundo ele, fundos de investimento estrangeiros saíram da aposta na queda para a aposta na alta do dólar. As companhias teriam apostado duplamente na queda do dólar, com operações a termo (contratos que se liquida normalmente 30, 60 ou 90 dias depois, cujas regras são diferentes do mercado futuro) e venda de contratos de opções de compra. Para honrar as operações, elas acabam comprando dólar mais caro.

Já o diretor da corretora Pioneer, João Medeiros, não acredita que a alta do dólar seja só especulativa. Ele avalia que as operações de ontem foram lucrativas para o BC, ao vender próximo de R$2,40 o dólar que comprou a R$1,60, em média. Também ajudou a melhorar o humor do mercado o pacote de corte de juros dos BCs europeus e americano, avalia Medeiros.

Como outro indicador de que a alta da moeda americana não se deve à saída de recursos do país, o BC anunciou ontem que, apesar do agravamento da crise internacional, o fluxo cambial (entrada e saída de moeda estrangeira) de setembro fechou positivo em US$2,803 bilhões. Apesar de a conta financeira, pela qual passam os recursos aplicados em Bolsa, mercados futuros e títulos, por exemplo, ter ficado negativa em US$4,186 bilhões, o comércio exterior garantiu entrada líquida de US$6,990 bilhões. O saldo comercial foi resultado de exportações de US$ 19,241 bilhões e importações de US$12,251 bilhões. No lado financeiro, as perdas refletiram ingresso de US$ 30,113 bilhões em investimentos e remessas de US$ 34,299 bilhões.

Nos nove meses fechados de 2008, a conta financeira apresentou saldo negativo em sete meses, incluindo os seis últimos. Saldos financeiros positivos no ano só foram registrados em fevereiro e março. Mas economistas avaliam que a situação não é tão dramática.

- Estes números indicam que a crise é externa, o impacto aqui é a falta de liquidez - avaliou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

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