Título: PT, PSB e PDT se reúnem com policiais grevistas
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 18/10/2008, O País, p. 12

CRISE NA POLÍCIA EM SP: Presidente da Força Sindical admite que centrais disputam a filiação da corporação

Reunião que decidiu manter a paralisação é comandada por CUT e Força; Paulinho nega politização da greve

Tatiana Farah

SÃO PAULO. Embora neguem a conotação político-eleitoral do movimento, os oito sindicatos grevistas que compõem a categoria da Polícia Civil de São Paulo se reuniram ontem com os presidentes de todas centrais sindicais, incluindo o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical (PDT-SP), e o presidente nacional da CUT, Artur Henrique. Todos negaram que a manifestação tenha sido insuflada por dirigentes políticos. Os dirigentes dos sindicatos enumeraram nomes de deputados que apoiavam a causa dos policiais, incluindo nomes do PSDB, partido do governador José Serra.

Os sindicatos e federações de servidores públicos estaduais entregaram documentos de apoio aos policiais e criticaram José Serra. Pelo menos três presidentes municipais de partidos políticos, todos de oposição ao governo Serra, porém, estiveram presentes à reunião, todos vereadores: José Américo Dias, do PT, Eliseu Gabriel, do PSB, e Claudio Prado, do PDT.

O confronto entre milhares de policiais civis e militares anteontem nas ruas próximas do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, deflagrou um movimento de apoio à greve da Polícia Civil paulista em alguns estados. Os policiais do Rio de Janeiro, porém, já avisaram que não vão aderir. Federações e entidades policiais divulgaram ontem nota de repúdio ao confronto - PMs cercaram as imediações do Palácio dos Bandeirantes para impedir a invasão pelos grevistas - e anunciaram uma paralisação nacional de 24 horas para o dia 29 deste mês.

Grevistas negam caráter eleitoral da manifestação

Na mesa montada pelos grevistas no Sindicato dos Investigadores do Estado de São Paulo, durante mais de uma hora sindicalistas da Polícia Civil e dirigentes das centrais sindicais rebateram as acusações de uso político-eleitoral da greve.

O presidente do Sindicato dos Investigadores, João Batista Rebouças Neto, disse que a greve não será suspensa para que o governador José Serra aceite negociar.

O secretário-geral do Sindicato dos Delegados de Polícia, Luiz Carlos de Almeida, representou a entidade na reunião, mas não sentou-se à mesa nem discursou. O sindicato foi o mais reticente em relação à presença de Paulinho.

- Não existe partido político infiltrado ou envolvido na greve. Ninguém manipula a polícia na greve. O movimento é ordeiro e ninguém está afrontando o governador. Cada sindicato decide, com a sua base. Não havia outros manifestantes que não policiais - disse o delegado.

No fim da tarde, no mesmo sindicato que servira de palco para manifestações político-sindicais, o Conselho da Polícia Civil, formado por diretores da categoria no estado, reuniu-se com o comando grevista. A missão foi dar um recado: esfriem a cabeça para evitar confrontos como o de quinta-feira, que deixou 32 feridos e pôs em xeque a imagem das polícias.

Paulinho disse que pretende realizar hoje um encontro do presidente Lula com uma comissão formada pelos grevistas para que eles entreguem um documento relatando o confronto. O encontro, se confirmado, ocorreria em plena atividade eleitoral da candidata petista, Marta Suplicy, hoje de manhã, no Centro de São Paulo.

- Estamos preparando um documento esclarecendo a verdade. Não queremos fazer política - disse, relatando ter uma relação sindical antiga com as polícias Civil e Militar: - Alguns são filiados à Força em nível nacional, mas no estado eles não são filiados a ninguém.

O coordenador da campanha de Marta, Carlos Zarattini, disse desconhecer a intenção de Paulinho no evento de hoje. Na reunião com os policiais civis, Paulinho disse que o governador José Serra estava desviando o foco da greve:

- Ninguém lá (entre os grevistas) estava preocupado com eleições. Estava todo mundo preocupado era com o "tíquete-marmita". Eu quero é que o governador receba os trabalhadores. Não estou falando de me receber, até porque eu não tenho nenhum prazer em me sentar com ele.

Paulinho admitiu uma disputa entre as centrais sindicais para cortejar a Polícia Civil, que em São Paulo soma 35 mil trabalhadores. Há oito sindicatos e nenhum é filiado às centrais.

Em Brasília, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal, Wellington Luiz de Souza Silva, anunciou ontem que a entidade tentará mobilizar policiais em apoio aos grevistas de São Paulo. Ele disse que a idéia é fazer um dia de paralisação.