Título: Incra reage a acusações de desmatamento
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 18/10/2008, O País, p. 18
Presidente do órgão diz que "informações propositadamente equivocadas" jogam a culpa na reforma agrária
Bernardo Mello Franco
BRASÍLIA. Um dia após o Ibama flagrar 19 fornos de carvão e três serrarias ilegais num assentamento no Sudeste do Pará, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, partiu ontem para o contra-ataque e reclamou de "informações propositadamente equivocadas" que, segundo ele, tentariam jogar na reforma agrária a culpa pelo desmatamento da Amazônia. Hackbart ordenou uma vistoria para verificar a possível prática de outros crimes ambientais nos mais de três mil assentamentos da Amazônia Legal.
Sem citar o Ministério do Meio Ambiente, o presidente do Incra criticou a lista dos cem maiores devastadores da floresta, divulgada pelo ministro Carlos Minc há duas semanas. A relação é encabeçada por seis assentamentos e já havia sido contestada pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel.
- Isso tem desviado o foco dos verdadeiros desmatadores. Os maiores destruidores da floresta são os grileiros de terras públicas, os grandes produtores de grãos e os pecuaristas - disse Hackbart.
Em nota oficial, o Incra disse ver má-fé nas informações que vinculam os assentamentos à destruição da floresta: "O Incra não concorda é que os assentamentos sejam apontados como os maiores desmatadores da Amazônia, quando as próprias fotos de satélite identificam grandes grileiros e grandes projetos econômicos como os autores do corte raso da vegetação. Sabe-se lá a que interesses servem informações propositadamente equivocadas".
Minc negou má-fé nas informações sobre desmatamento em lotes de reforma agrária e disse que os fiscais do Ibama atuam indistintamente em terras públicas e privadas. A ação em Novo Repartimento foi motivada por alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que identificaram o município como campeão do desmatador em agosto, explicou ele.
- Não sei a que informações equivocadas estão se referindo - disse Minc.
As superintendências do Incra farão vistoria nos assentamentos da Amazônia Legal e terão 30 dias para apresentar relatórios sobre os problemas ao Ibama e ao Ministério Público Federal.