Título: Mais perdas no setor de papel e celulose
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 18/10/2008, Economia, p. 33

Balanço do 3º trimestre de Aracruz e Votorantim mostram grandes prejuízo

Lino Rodrigues

SÃO PAULO e RIO. Depois de fazer estragos na contabilidade da Klabin e causar uma parada de produção na Suzano, os danos da valorização do dólar, puxada pelo agravamento da crise internacional, voltaram a aparecer nos balanços divulgados ontem por mais duas empresas do setor de celulose e papel. A Aracruz, maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, que já havia reportado perdas bilionárias com derivativos de câmbio, e a Votorantim Celulose e Papel (VCP) divulgaram grandes prejuízos no terceiro trimestre, de R$1,642 bilhão e R$586 milhões, respectivamente.

As perdas, que somadas chegam a R$2,228 bilhões, terão reflexos negativos nos projetos de expansão de ambas as empresas para os próximos anos. Entre as medidas para se adaptar ao cenário de restrição de demanda de celulose no mercado internacional, a Aracruz suspenderá temporariamente os investimentos na expansão da fábrica de Guaíba II (RS) e a compra de terras para formação de florestas. O corte estimado será de cerca de R$900 milhões.

Na VCP, além da suspensão do plano para contratar linha de crédito de US$1,8 bilhão junto ao JP Morgan, que seria usada na operação de fusão com a Aracruz, está sendo analisada a possibilidade de adiamento do plano de construção de uma nova fábrica no Rio Grande do Sul.

No trimestre anterior (de abril a junho) as duas empresas haviam registrado lucro: a VCP de R$278 milhões, e a Aracruz, de R$262 milhões. O prejuízo da VCP no último trimestre teve relação direta com o impacto do câmbio valorizado sobre a sua dívida em dólar. O ajuste contábil desse débito foi de R$645 milhões. Na Aracruz, pesaram as posições com derivativos em que a empresa apostava na queda do dólar. O total de contratos futuros no fim de setembro era de R$1,692 bilhão, contra R$26 milhões no trimestre anterior.

CVM exigirá mais detalhes sobre uso de derivativos

Para o analista do setor de papel e celulose da Tendências Consultoria, Elton Bicudo, as paralisações na produção de celulose, como a anunciada pela Suzano na quinta-feira, devem se estender para as VCP e Aracruz ao longo de 2009. Isso porque, segundo ele, o cenário do próximo ano é de pessimismo, com retração de demanda e de preço e postergação de investimentos. O analista observa que o dólar mais alto compensa em parte as perdas e ajuda as empresas a manter a rentabilidade:

- A questão é saber se as papeleiras brasileiras terão fôlego financeiro para aguentar o tranco.

Diante das fortes perdas financeiras das empresas, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de ações, exigirá das companhias detalhes sobre os derivativos que usam. A regra já vale para a divulgação dos resultados do terceiro trimestre deste ano. A medida complementa uma outra instrução, que determina que essas operações sejam descritas em notas financeiras.

As empresas que já divulgaram seu informativo trimestral à CVM terão que reapresentá-lo com as adaptações até 14 de novembro. As companhias terão ainda que divulgar análises sobre como ficaria sua exposição nesses instrumentos diante de três cenários especificados. O objetivo é dar referenciais mais concretos aos acionistas, para que avaliem os riscos das posições assumidas.

COLABOROU: Juliana Rangel