Título: BC ao Palácio do Planalto: medidas são suficientes, mas podem ser calibradas
Autor: Camarotti, Gerson; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 10/10/2008, Economia, p. 26

Meirelles e Mantega se reúnem com Lula. Alvo é conter a escalada do dólar.

BRASÍLIA. A avaliação feita ontem pelo Banco Central (BC) para o Palácio do Planalto é que as medidas anunciadas ao longo da semana e consolidadas com a reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN) são suficientes por enquanto. Mas poderão ser calibradas nos próximos dias, de acordo com os desdobramentos no mercado brasileiro, principalmente em relação à escalada do dólar frente ao real. Após as intervenções da autoridade monetária, a moeda americana cedeu ontem. Mas a palavra de ordem ainda é cautela.

- O dólar não ter subido já é um alívio. Mas a situação internacional anda de lado. Talvez tenha acabado o desarme de posições no mercado de dólar (quem estava precisando cobrir prejuízos já conseguiu o objetivo). Não dá para dizer que é isso, e que acabou. Cada dia é um novo dia neste mercado. Enquanto os Estados Unidos e a UE não se posicionarem por completo e acalmarem as coisas, não sabemos o que esperar ao certo - resumiu um integrante da equipe econômica.

Embarque para os EUA foi adiado para monitorar crise

O presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estiveram por quase duas horas, ontem à noite, no Palácio do Planalto. Eles se reuniram com o presidente Lula para fazer um balanço das medidas, avaliar a resposta do mercado financeiro e fechar a posição que o Brasil defenderá a partir de hoje na reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (Bird).

Os principais nomes da equipe econômica deveriam ter embarcado na quarta-feira à noite para Washington, onde se dará o encontro, mas decidiram permanecer no país e retornar a Brasília - estavam já em São Paulo - para monitorar de perto a situação, fechar o rol de medidas (haverá mais recursos para a agricultura) e manter Lula informado.

O presidente viaja domingo ao exterior - fará um giro por Espanha, Índia e Moçambique - e só retorna no fim da próxima semana. Mantega e Meirelles só estarão de volta dos EUA na terça-feira.

O presidente do BC disse a interlocutores que conversou entre quarta-feira e ontem com dirigentes de grandes bancos brasileiros. Obteve retorno de que a situação havia melhorado com as ações implementadas, inclusive a medida provisória (MP) que permite que o BC ofereça empréstimo aos bancos menores recebendo como garantia suas carteiras de crédito.

Meirelles relatou ainda ter recebido recados de que os representantes dos grandes bancos temem a politização da MP no Congresso Nacional . Por isso, Meirelles iniciou uma articulação, para evitar desgaste e estresse nos mercados.

Brasil cobrará mais regras para o sistema financeiro

A determinação do presidente Lula aos representantes brasileiros na reunião anual do FMI-Bird é que cobrem mais regulamentação do sistema financeiro internacional para evitar que prossiga o que no Palácio do Planalto passou a ser classificado de "cassino global". O movimento especulativo tem conseqüências para todos os países, inclusive aqueles que não cometeram os erros dos EUA e da União Européia.

O presidente Lula também deseja que o mundo - e especialmente os EUA - se enquadre no acordo de Basiléia (parâmetros mais rígidos de exposição dos bancos a risco).

- O presidente considera importante levar a Washington a mensagem de que a natureza global da crise mostrou que precisamos ter supervisão de entidades internacionais sobre o mercado financeiro. Nesse sentido, um esforço conjunto para aperfeiçoar o funcionamento dos mercados financeiros mundiais poderá dar um sentido claro de direção aos agentes econômicos - afirmou o porta-voz do Palácio do Planalto, Marcelo Baumbach.

COLABOROU Luiza Damé