Título: Com medo de recessão, Wall Street desaba 7,33%
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Fonte: O Globo, 10/10/2008, Economia, p. 27
Dow Jones fica abaixo de 8.600 pontos pela 1ª vez em 5 anos. Em Tóquio, Nikkei despenca mais de 10% na abertura.
NOVA YORK e FRANKFURT. Movidos pelo pânico de uma recessão global, os investidores provocaram ontem uma avalanche de venda de ações, derrubando Wall Street pelo sétimo dia seguido. No fim da sessão, o índice Dow Jones recuou 7,33%, para 8.579,19 pontos, fechando abaixo dos 8.600 pontos pela primeira vez desde maio de 2003. Foi uma perda de quase 40% em relação ao pico de alta, ocorrido exatamente há um ano. Segundo analistas, a percepção geral é que as recentes medidas adotadas por autoridades não serão suficientes para evitar um retrocesso na economia.
O Nasdaq e o S&P 500 também recuaram para níveis não vistos há mais de cinco anos. O S&P perdeu 7,62%, para 909,92 pontos. Já o Nasdaq caiu 5,47%, para 1.645,12 pontos.
Devido ao fuso horário, as negociações na Ásia, que fecham mais cedo, não foram contaminadas pelo pânico de ontem. O Índice Nikkei, de Tóquio, fechara com perda modesta de 0,5% e o Hang Seng, de Hong Kong, subira 3,31%. No entanto, na abertura dos mercados hoje, as bolsas asiáticas desabaram por causa dos alertas de recessão global. O Nikkei abriu já caindo 11,38%, reduzindo depois a perda para 10,64%, ou 8.138 pontos, até o fechamento desta edição. Como o Dow, desde 2003 o índice não ficava abaixo de nove mil pontos. Em Seul, o índice Kospi caía 7,5%, enquanto o Hang Seng recuava 8%.
Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-7 (grupo dos sete países mais ricos) vão se reunir em Washington hoje, em meio às expectativas de que o time formará uma frente unida para traçar políticas para enfrentar a crise de crédito nos Estados Unidos e na Europa e evitar uma recessão global.
- Vários países fizeram um pouco aqui e um tanto ali. Ninguém fez nada junto - disse David Mackie, chefe de Pesquisa Econômica Ocidental no JPMorgan. - Ainda não está claro se essas medidas estão mudando a maré.
Ações da GM perderam 31% e caíram para nível de 1950
Os papéis de bancos e seguradoras apanharam novamente, à medida que a ação global dos bancos centrais na véspera, cortando as taxas de juros, e outras medidas anunciadas para devolver confiança aos mercados não conseguiram injetar confiança no setor financeiro. Os mercados de crédito permaneceram paralisados. O custo interbancário de empréstimos por qualquer período além do overnight deu um salto.
Já as ações da General Motors perderam 31,1%, recuando para o menor patamar desde 1950. A queda foi puxada pelos temores de que o declínio do setor iniciado nos EUA esteja se espalhando, e um importante analista alertou de que o mercado automobilístico global poderá sofrer um colapso em 2009. Os papéis da GM fecharam cotados a US$4,76. Exxon Mobil e Chevron, por sua vez, lideraram a queda do Dow, à medida que os preços do petróleo caíram para um patamar abaixo dos US$87 o barril, diante das preocupações de que a desaceleração econômica afetará o consumo da commodity.
- Estamos muito além dos fundamentos. Isto é puro pânico, é tudo o que é - disse Chris Orndorff, estrategista-chefe da corretora Payden & Rygel, em Los Angeles.
"Investidor perde a confiança", diz especialista
A expressiva perda em Wall Street marcou o aniversário do pico histórico do Dow Jones, quando o índice fechou acima dos 14 mil pontos. As perdas de ontem representaram a maior queda acumulada em sete dias do Dow e do S&P desde o crash de outubro de 1987. No caso do Nasdaq, a queda de sete dias foi a pior desde dezembro de 2000.
- Sem qualquer sinal visível de recuperação de um movimento de crédito normal, o investidor perde a confiança. Ele percebe que, neste ponto, o sistema bancário ainda tem um longo caminho a percorrer, antes de voltar a funcionar - analisa Frederic Dickson, vice-presidente-sênior e estrategista de Marketing da D.A. Davidson.
Nos últimos sete dias, o Dow perdeu em média 2.271,47 pontos - a pior média desse período. Desde seu fechamento recorde, há um ano, o Dow perdeu 5.585,34 pontos - um recuo de quase 40%.
O ceticismo com relação aos efeitos das ações coordenadas contra a crise também predominou nos mercados europeus. No fim das sessões de ontem, as bolsas do continente também fecharam no vermelho, recuando para os piores níveis dos últimos anos. O índice FTSE, dos papéis negociados no mercado londrino, recuou 1,21%. Em Frankfurt, o DAX caiu 2,53%, e, em Paris, o CAC-40 teve queda de 1,55%.
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