Título: Para FMI, Brasil vai bem, mas não está imune
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 10/10/2008, Economia, p. 28

Crescimento menor em 2009, de 3,5%, não é suficiente para país, diz Fundo.

WASHINGTON. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou ontem que a economia do Brasil vai bem, mas que o país deve se preparar para o impacto da crise financeira desencadeada nos Estados Unidos. Ao contrário do que vinha opinando o governo, os economistas do Fundo dizem que os brasileiros não estão imunes ao contágio.

- Nenhum país está imune. Nenhum. Pode haver algum atraso ou diminuição da força das ondas (de contágio) que firam os países emergentes, mas haverá algumas conseqüências - preveniu ele.

Strauss-Kahn destacou que "o Brasil tem fundamentos muito fortes, vem conduzindo uma política econômica correta nos últimos anos, tem muitas reservas acumuladas e uma economia em boa forma". Mas acrescentou:

- Mesmo em boa forma, o efeito da desaceleração do crescimento global terá conseqüências no Brasil.

Ao considerar a previsão do próprio FMI de que o país deverá crescer 3,5% no próximo ano (contra 5,2% em 2008), Strauss-Kahn disse que isso não é suficiente para um país do porte do Brasil:

- Para alguns países como o meu (França), por exemplo, 3,5% de crescimento seria um grande sucesso. A última vez que tivemos um índice desses foi há dez anos. Mas, para o Brasil, obviamente 3,5% não é tão bom. Estamos habituados a taxas de crescimento de 5% e 6%. Portanto, o Brasil tem uma situação sólida mas não imune à crise - disse o executivo do FMI.

A avaliação mais recente do Fundo sobre o país, divulgada em agosto passado, dizia que a vulnerabilidade do Brasil diminuiu graças ao declínio na relação entre a dívida pública líquida e o Produto Interno Bruto, além da melhoria na composição da dívida pública, "mais o alongamento dos vencimentos e o acúmulo de um nível confortável de reservas internacionais". O Fundo, no entanto, gostaria de ver um aperto das finanças públicas, argumentando que isso "contribuiria para o ajuste e ajudaria a aliviar a pressão sobre a política monetária".

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